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MATRIX

O pragmatismo vencedor da tecnologia, individualismo e egoísmo sempre coloca em segundo plano os interesses da coletividade que envolvem solidariedade e doses maciças de humanismo. O mundo cabe inteiro na tela de um notebook ou de um celular, o dinheiro fala mais alto, jogar a televisão pela janela no filme “Pink Floyd – The Wall” evoluiu para pichar muros. Maquiá-los, ao invés de derrubá-los. Jogar o celular na fogueira no filme “As Invasões Bárbaras”, uma metáfora da Inquisição, queimando nas chamas da ignorância aquilo que o estúpido do romântico não compreende. Não há como reverter o tempo e voltar a um mundo que já não existe. Nosso cordão umbilical está irremediavelmente ligado a saídas USB e fontes de energia. É a mesma coisa que plugar o pênis em qualquer parte do corpo e soltar uma descarga elétrica. O prazer será igual. São homens que já perderam o contato, suprindo a necessidade com a ejaculação precoce ou com uma “rapidinha”, justamente para evitar uma aproximação mais estreita. Massagem, somente no ego. Carícias, é bom desconfiar de quem parte, pode haver segundas intenções. Melhor se fiar em sessões contínuas de masturbação. Se mulheres aderiram, viraram homens, o rigor na assepsia e na distância, com frieza, retira-lhes o caráter feminino e as torna guerreiras de uma era de informatização.
Uma era que ampliou a nossa compreensão do mundo e nos capacitou a aumentar o grau de conhecimento sobre as intrincadas relações que denominamos amor, seja racional ou irracional. Cada ponto numa rede, cada website, cada blog ou fotolog, corresponde, sem exceção, a pessoas de carne e osso, existindo como matéria e espírito em outra freguesia, muitas vezes mais próximas do que os nossos vizinhos de porta.
Contudo, pôr a informática como extensor de nosso afeto é transferir uma responsabilidade que não cabe num ser humano, senão o regride a micróbio. Uma mensagem na tela mostra, no máximo, a que viemos, sem que a entonação de voz denuncie o que sentimos. As empresas hoje incentivam os funcionários a se comunicarem por e-mail, evitando a perda de tempo em contatos supérfluos e reuniões intermináveis, aumentando o ganho por empregado, além de monitorá-los disponibilizando celulares. Nenhuma fórmula pode ser descartada para encontrar sua cara-metade, mas daí a dizer que a internet é a solução representa a falência da atração à primeira vista.
Nos encontramos num estágio de deslumbramento com nossa própria grandeza por termos criado a inteligência artificial. Uma consciência singular que gerou uma raça inteira de máquinas. Cada vez mais dependemos de máquinas para sobreviver – Matrix. Suscitando opções além do que poderíamos dar conta. Desencadeando mais energia do que somos capazes de absorver. O remédio provoca efeitos colaterais se ingerido além do prescrito. A seguir nessa toada, seremos suplantados conforme previsto nos filmes “2001: Uma Odisséia no Espaço” e “Blade Runner”. Para não virar raça em extinção, teremos que ser cultivados em viveiros. Um paradoxo, para um planeta que abusou da superpopulação.
O computador irá gerar um mundo não-real, assemelhado a sonho, feito para nos controlar e transformar o ser humano numa abstração. A mente se debate em vencer o que nos oprime. Somente com o fim da guerra é que o ser humano se emancipará do medo, da dúvida e da descrença – libertando-se. O corpo não vive sem a mente, e a mente tem problemas para esquecer. Quem não consegue se libertar se torna inimigo de quem já atravessou o portal. Posto que estar desperto, a maior parte dos olhos não está preparada para ver. Muitos estão inertes e dependentes do sistema, irão lutar para assim mantê-lo. Eles são todos e não são ninguém. Eles protegem todas as portas e têm todas as chaves. A força deles se baseia num mundo feito de regras. Negar os nossos impulsos é negar aquilo que fez de nós humanos.
Experimente pôr em prática a sua verdade. Ter o dom mais parece que você está esperando algo. Ser o escolhido é como estar apaixonado. Os homens definem a realidade através da desgraça e do sofrimento. O mundo perfeito era um sonho do qual o cérebro primitivo tentava acordar. Até que a máquina roubou a civilização que o ser humano acreditava ser obra sua. O auge da evolução. Desperdiçaram sua vida útil ao não se harmonizarem com o meio ambiente. Uma vez consumidos os recursos naturais, a única forma de sobreviver é migrar para uma outra área. Só há um outro organismo que segue o mesmo padrão: o vírus. O homem como câncer do planeta.
Há uma diferença entre conhecer o caminho e percorrer o caminho. Ter medo de nós significa temer mudanças por não conhecer o futuro. Ninguém virá para te dizer como isso irá acabar. Mas alguém virá para te soprar como irá começar, melhor não sentir medo. Um mundo sem regras nem controle, sem limites nem fronteiras. Um mundo onde tudo é possível. Para onde vamos daqui é uma escolha de cada um. Depende de quando você começar a crer.
Não se trata de a ficção antecipar a realidade, está contido no nosso imaginário. Matrix, senhor absoluto, a encarnação de Deus como máquina em que a mulher não se faz presente. Apenas guerreia. Ou se encaixa como a esposa do Mestre. Na periferia de sua busca por sinais de vitalidade em homens que fraquejam, exauridos por relacionamentos competitivos, ela é capaz de compactuar com seu deus restaurado emergindo da tela de TV ou da placa-mãe do computador. Para recarregar suas baterias e restabelecer suas esperanças no amor.
Reprogramar o conceito de família e da unidade do casal ainda é um sonho distante, o condicionamento trava qualquer aspiração, o instinto cala mais fundo.
Esquece. Arquiva numa camada mais profunda da mente o que estava na superfície. Sob o risco de transformar-se em fonte de angústias. Prosseguindo o ciclo interminável de reprimir as lembranças traumáticas e refrear os desejos inconfessáveis que tornariam a vida um sonho. Uma cidade de sonhos, dos quais não vale a pena despertar, por nos inserir numa realidade tão pura que nem a poesia conseguiria descrever, caso pudéssemos ceder sem receio do alheio tirar o que é seu, abusar de sua boa vontade. Enquanto formos obrigados a discriminar doação de saque, entrega de seqüestro de almas, disponibilidade de violação, o coração que tirita de frio em busca de calor humano do coração que enregelou e não morreu.

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Antonio Carlos Gaio
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