Os que acreditam terem sido investidos do dom da mediunidade geralmente acabam por procurar centros espíritas e conhecer companheiros com histórias parecidas. Lendo livros e participando de treinamentos, o médium consegue desenvolver sua habilidade. Você não pode evitá-la, ainda mais quando a mediunidade é exuberante, a inspiração para escrever é compulsiva, inesgotável, incontrolável. Impossível provir de um só guia, é obra de uma equipe que não é desse mundo, só restando a você a dádiva de cumprir essa missão, ficando à mercê de espíritos que costumam aparecer do nada, na hora em que a pessoa menos espera, como se não houvesse dia e noite – uma antevisão do Plano Espiritual.
“O telefone toca sempre de lá para cá” – já dizia Chico Xavier.
Cresce o anseio de familiares de entrarem em contato com parentes mortos, na esperança de que estejam vivos – e em paz – no Plano Espiritual. Foi assim, através de uma longa trajetória, que Chico Xavier mostrou o dom de falar com desencarnados, ouvindo vozes ou psicografando mensagens assinadas com nomes ou apelidos de pessoas mortas, levando consolo a inconformados que ainda pranteavam o luto de entes queridos.
Em transe, o médium recebe a mensagem como se lhe fosse ditada, bastando se concentrar em ambiente silencioso e pôr-se a escrever sem procurar sentido ou concatenar palavras, sequer interpretar para onde o estão levando. É um exercício de liberdade e absoluta confiança em seus guias na certeza de que, no final, o recado estará dado e em linguagem originada de outro padrão referencial em que o corpo físico não pesa mais na balança.
A abordagem das mensagens soa século atrás, eivadas de sentimentalismo, por vezes saudosas de tempos de quando encarnados e freqüentemente desperdiçados, mas é a linguagem de prestar auxílio e socorrer os necessitados, em se tratando de hospital das almas. É a linguagem do amor, da compreensão e do carinho que nem sempre encontra campo para se expressar no plano terrestre. É a linguagem em que o espírito não se preocupa se é bonito ou feio, apenas procura entrar em sintonia conosco para levantar a fé, que se abala conforme a pressão do cotidiano e interfere no equilíbrio das emoções e do corpo.
Há os médiuns que não se incomodam e psicografam dentro de ônibus, de aviões ou de bares, mesmo na presença de outrem que os observe, como zumbis que zombeteiam, sem que lhes obstruam ou cortem o contato com os espíritos. Pois se concentram, de olhos abertos, sem censurar o que e de onde vier, como bons receptores que são, com tudo fluindo para se encaixar nos devidos lugares. Dando ao médium a sensação de ignorância completa a respeito do que está escrevendo, já que não saiu de sua cachola. Veio soprado. O que irá dizer em casa, se não conseguir explicar o que escreveu? Mas se brotou do fundo de sua alma! Porém, não passou pelo seu crivo, discernimento; desconhece, sequer, se agradou ao seu bom senso. Deixando-o na maior incerteza para justificar qual foi sua linha de raciocínio e como tirou aquelas conclusões.
Se não foi ele o autor.
Mas, ao final, a grande surpresa, ultrapassadas as desconfianças: ninguém questiona a autoria. Imagine se irão acreditar na fábula de que o talento provém do Plano Espiritual! Na centelha divina que soa como trovão e faz chover na horta dos leitores que precisam de arte para sobreviver.
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