É um péssimo exemplo para a juventude que artistas-cidadãos de mais de 50 afirmem ter medo, a pretexto de reafirmarem sua opção eleitoral.
Por delinearem um futuro próximo de incertezas, quando a população majoritária de jovens e sem emprego anseia por um lugar ao sol e não tem outra alternativa senão apostar num país com mudanças. Eles precisam construir com urgência seu próprio caminho, não podem se dar ao luxo de se restringir ao medo.
Prejulgar num exercício político que tudo vai piorar, cabe, mas 8 anos de estabilidade financeira com inflação sob controle e um presidente que nos orgulhava diante de seu desempenho como chef de cuisine do Brasil no exterior, foram desmentidos. No último ato do espetáculo, antes de cerrar a cortina, desmentem o dólar, os juros, a dívida externa e a insegurança que rola nas províncias, estradas, favelas e becos sem saída. Que causam terror, o verdadeiro terror dos nossos tempos talibãs.
Estelionato e ruína é do que o eleitor tem mais medo. Com base no legado que o seu voto acarretou, dado de boa-fé a administrações eivadas de empáfia que chamavam o aposentado de vagabundo, para desleixarem na energia que apagou diante de sua visão julgada ao nível do Primeiro Mundo – a Cinderela dos tecnocratas.
É natural que em gente como a gente com mais de 50, a descrença se faça presente e se revele em doses cavalares, na razão direta das vicissitudes já sofridas para se reafirmar no estrelato nacional e à instabilidade que a vida do artista provoca no seio do amor, numa relação transparente onde os folguedos da fama não desvirtuem a verdade que se busca no afeto que encerra o néctar da felicidade.
Em razão dessa insegurança, na verdade uma inconstante também na vida dos comuns, é natural o descrédito em abraçar um candidato com paixão, a traição faz parte da política que, em última instância, nos representa perante a sociedade. E a nossos sentimentos de fidelidade.
E se não se apaixona, não se ama, e se não se ama, a capacidade de crença nos valores de uma sociedade que constrói uma ética amolece, titubeia e deriva para o medo. O receio em se apaixonar por alguém ou algo de verdade, que se confundem.
Alarmados, alardeiam o terror do medo nos olhos de quem os cultua e venera, na esperança de fazer a cabeça dos “sem medo de ser feliz” e respeitarem a palavra dos mais velhos, conhecedores profundos de regimes de força que já cercearam sua liberdade de expressão e não permitiram realizar o que desejaram outrora.
É coisa de criança, de gente jovem imatura, de sonho impossível de alcançar, de alternativo errante, realizar o que sempre desejou. Nem cabe em política tal grau de fantasia, aferrada que é ao pragmatismo da realidade.
Escolhas revelam paixões, opções exteriorizam qual é o caminho que escolhemos para definir nosso perfil, nosso ardor, nosso lema, a nossa cara, uma ideologia pra se viver, finaliza Cazuza.
Em eleições, ter medo significa dar um passo com segurança para depois não se arrepender, para que mexer em time que está ganhando, o pendor monarquista ainda reinante que pretende-se conferir estabilidade à democracia, quando sua verdadeira cara é o medo da alternância e a não aceitação de ser apeado do poder, medidos em perda de prestígio e na arte de manipular o talento com que Deus nos brindou.
Agimos movidos para escapar do medo, que nos acompanha desde que abandonamos o útero, apenas para certificar que a confiança em si mesmo, a fé na missão a que nos destinaram e a esperança no construir um mundo melhor, se encontram inabaláveis, a espantar maus-olhados e agnósticos presságios de trevas. É o mínimo que filhos e netos exigem de pais e avós conseqüentes, não se deve assustar as crianças com o bicho-papão que lhe espera na próxima esquina, a boa pedagogia ensina.