Minha cicatriz tem alto relevo.
Ela me diz e eu vejo
que desejos podem ser verdades e maldades.
Ela tem minha idade,
pois nasci da dor do corte
do cordão da barriga de outro alguém.
A cicatriz da atriz
não se simula, nem se disfarça
em cena ou com maquiagem,
está dentro dela.
Escreve, junto com ela, suas personagens,
numa viagem ao fundo da memória,
quando ela interpreta as histórias
escritas por outro alguém.
Interpretar é internalizar
e agir com o sentimento
de outro alguém.
A cicatriz cicatriza sim, meu bem.
É beleza da natureza
e não um rasgo do qual se tenha vergonha,
que se compara com a pele de outro alguém.
Ela nasce das feridas da vida,
da sabedoria da nossa carnea
antes do desencarne.
E, naturalmente,
com o tempo se cura
ou com a ciência da Humanidade,
quando se costura.
Por que cultivar a loucura
de sofrer por algo
que já se curou?
Por que cultivar a feiúra
e não elevar a beleza da autocura,
de sobreviver às surras,
sejam da vida ou do que nos machucou?
Não posso ser fútil assim.
Prefiro tentar ser útil
pro mundo e pra mim,
guiada por minhas cicatrizes e dores
pintadas com todas as tonalidades de cores
e estágios de “ais”,
até chegar neste lugar aqui de paz.
Sim, minha cicatriz tem alto relevo,
me diz e eu percebo
que posso ser feliz, como desejo.
Com todas as verdades e maldades
que me invadem.
Ela é minha identidade,
pois nasci da dor do corte
do cordão da barriga de outro alguém.
E você que me lê também.
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