“Minha felicidade” é um filme da Bielorrússia sobre a barbárie a que o ser humano ainda está sujeito, par e passo com a falência moral da ex-União Soviética, mas que encontra equiparação no Brasil ou no México – bem, a lista de países campeões de violência é longa. O filme é assistido com uma curiosidade ímpar e um silêncio revelador do total espanto do público com cenas chocantes de atos asquerosos de corrupção, roubo e exploração no meio de gente com poucos recursos em intenso frio, degradação, agressões gratuitas, execuções sumárias, o estupro mais original de que se tem notícia. O ser humano entregue à sua própria sorte, solitário num mundo desolador e fértil em paisagens congeladas e ermas, delineado por rostos marcados pela desilusão, falta de perspectivas e o homem lobo do homem. Se Tchecov, ao expressar o clímax da arte russa, concentrou-se no grande vazio da vida e na incomunicabilidade do final do século XIX, o primeiro longa-metragem do diretor bielorrusso Sergei Loznitsa esmagou-nos com o barbarismo na ex-república soviética e stalinista e as barbaridades na Bielorrússia (ou Rússia?) de hoje. Se não chega a ser novidade nenhuma a maldade humana à flor da pele, incomoda o mundo não ter evoluído para dar conta do que já se chamou de pequenos assassinatos. Nem se tornando um zumbi é a solução contra a barbárie. Não há como ser insensível ao banditismo que nos assalta, agride e violenta. Vai existir um dia em que você reagirá e nem sua própria loucura o protegerá de você mesmo. Mesmo não possuindo o perfil de livre atirador. Onde está minha felicidade?
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