O misógino não tem uma cara ou perfil específico que o denuncie a ponto de não deixar dúvidas. É um heterossexual que sente aversão pela mulher dona de seu nariz, que se tornou mais forte, independente e poderosa, impedindo-o de exercer sua masculinidade segundo o decálogo ao qual está habituado e nele gerando o medo de ser rejeitado. A misoginia se alastra rapidamente como um vírus, podendo chegar ao extremo de fazer dele um homem distante, frio e calculista, que se relaciona por estratégia, pouco a pouco mergulhando na agonia de não mais amar, ato final em que se transformará em voyeur.
A masculinidade ainda é regida pelos padrões de performance e se expressa através de poder, domínio, status, arrojo e conquista sexual. E, em contrário, provocando o medo da incompetência, de falhar no ato. O medo da intimidade, que expõe suas fraquezas. E, por fim, o medo de ser abandonado. Todos os meninos crescem com o medo de serem rotulados de “filhinho da mamãe” ou de “viadinho”. A fórmula de escapar ao medo de não ser homem é atrelar-se à virilidade e ao saber ser duro quando a ocasião pedir. Crescem, portanto, embutindo sua sensibilidade com uma educação que nega a emoção farta e fácil, portadores de uma intransigência estoica que carrega de angústia sua jornada pelos valores másculos. Pois o que o ego masculino mais requer é rejeitar qualquer coisa nele percebida como feminina, já que o dogma central da masculinidade – a heterossexualidade compulsória – requer que o homem, para se afirmar como tal, guarde uma distância dos outros homens que não deixe margem à dúvida.
A misoginia surge da necessidade que o homem tem de estabelecer sua masculinidade e não mais encontrar terreno fértil, correndo o risco de vir a não satisfazê-la. Enquanto ele está aprisionado neste paradoxo, a autonomia sexual da mulher requer que o homem imponha sua masculinidade, mas que também se identifique com o feminino: seja igualmente dominador e submisso, poderoso e suave, independente e dependente. Em outras palavras, ele precisa ser masculino e feminino. Trafegar com desenvoltura na androginia dos sentimentos.
Mas como? Se o misógino inveja nas mulheres a maldita certeza de ser capaz de amar alguém, o prazer idiota que alarga o sorriso e acelera o piscar dos olhos, a realização absurda que extrai de um relacionamento. Inveja as mulheres porque conseguiram libertar a Bela Adormecida em cada uma delas e levantar voo na vassoura das bruxas que as criaram, enquanto ele permanece acorrentado tal como Prometeu, que espiava o abutre comer o seu fígado todo dia e nada podia fazer.
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