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MISOGINIA E HOMOFOBIA DE BRAÇOS DADOS

O misógino não tem uma fisionomia específica que o denuncie, tal como o machão, o galinha, o malandro e o que desmunheca. É um heterossexual que tem aversão à mulher que é dona de seu nariz; cuja nascente originou-se em heroínas anônimas que conquistaram a carta de alforria do homem e se fizeram independentes. Libertando-se da provedoria que as escravizava, as diminuía e castrava seu futuro. Abrindo caminho para inúmeras possibilidades de amor, até então condenáveis pela tradicional família, de filosofia ditada pelo cabeça do casal.
Aos olhos do misógino, a mulher se tornou poderosa. No sexo, toma iniciativa, dá em cima, convida, ganha o cara e diz o que quer na cama, sem medo de ser feliz. Não fica mais calada, nem mesmo por baixo no leito do amor. Inibindo-o, pois perde o domínio e o controle da relação. Ele é dispensado de abrir as portas e ensinar-lhe o caminho das pedras. Aposenta-se como seu professor. Passa a se sentir imprensado na parede por essa mulher que julga ser castradora de seus desejos e iniciativa. Não se trata de uma vingança por ele a haver frustrado tanto, mas o fato é que ela não mais espera pelo seu orgasmo; ela o busca, nem que seja através de seus próprios dedos. É definitivo: ela não precisa mais de seu cão-guia.
A inadequação sexual pode alimentar inconformismo e irritação com a mulher opinativa, que sabe o que quer e não permite que abusem de sua boa-fé. Mal escondendo ele sintomas de agressividade dirigida a parceiras com quem deixou de se afinar. E ver-se invadido por um pânico existencial de o acusarem de ser afeminado, que diferencia de gay, ao desencadear uma rejeição a qualquer coisa percebida como feminina.
Com efeito, a misoginia surge da necessidade que o homem tem de estabelecer sua masculinidade e exercer sua sexualidade para o fim com que veio ao mundo, e até então estava destinado, e a mulher ter posto um fim no seu uso e fruto em recente pré-história, quando ela se livrou do papel tradicional de esposa e largou de ser cordata, não mais entrando no seu jogo e não aceitando manipulação de qualquer ordem.
O misógino se investe, então, de um pavor que ela não venha mais a amá-lo pelo que ele é, ou sequer atraída por um jurássico, podendo vir mesmo a abandoná-lo às traças, caso ele não saiba como satisfazê-la. Pois ambos os sexos passaram a gozar do direito de exigir que seus companheiros lhes proporcionem prazer, no sentido mais amplo que cada um puder alcançar.
Uma autonomia sexual que ratifica a necessidade da presença máscula, desde que combinada à presença de espírito, suave como uma noite imersa no som dos grilos, e de uma generosidade que faz esquecer o egoísmo típico da masturbação. Como se conhecesse sua amada amante de outras vidas, transcendendo os limites de sua herança genital e criação ao caráter do homem como o centro do Universo, sem se regular pelo tempo, pois o tempo é seu aliado.
Endurecer, portanto, mas com ternura. Mas o arsenal do misógino não vai tão longe, o que o emparelha ao homofóbico numa confraria que consagra a aversão. No misógino, que repele a mulher independente que não mais necessita de sua última palavra e abunda na feira-livre do amor, inspirada no “crescei e multiplicai-vos”. E no homofóbico, que detesta o viado que parte em sua direção mirando no fundo de seus olhos para conquistá-lo. Na repulsa ao sexo livre de preconceitos, poderão acabar um nos braços do outro.

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Antonio Carlos Gaio
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