A prova de que o mundo mudou é que para se pensar seriamente algum problema, há 200 anos, havia que ficar parado, como que a pensar na vida, sem dar um pio, olhando fixo para o teto ou esperando uma árvore se mover. A mera leitura de um jornal já constituía um desvio imperdoável. Hoje, somos assaltados pela avalanche de informações recebidas, desde os inúmeros eventos esportivos simultâneos até os noticiários locais, regionais, nacionais e internacionais, entremeados por uma publicidade atraente e inteligente, competindo com as crescentes exigências de sua especialização profissional, afora a demanda por entretenimento ou cultura. Sem possibilidade de síntese, é a entropia na deglutição do universo que tem por ler, ver e ouvir. Obrigando-nos a tomar conhecimento de tudo, senão ficamos por fora, e a nos equiparar ao diabo criado por Goethe, em “Fausto”, sua obra-prima de 1806, que diz: “Não sou onisciente, mas muito me é conhecido”. O que nos deixa mal na fita por nos contrapor ao saber onisciente de Deus que, em um único ato de infinita simplicidade, pode tocar com Seu dedo indicador o verdadeiro infinito.