Mulherengo é o homem que busca incessantemente a fêmea. Não se confunde com o acúmulo, por enxergar, valorizar e amar o que elas têm de melhor, sem jamais discriminá-las. O que as faz se sentirem nas nuvens. Com um gostinho de quero mais, o que poderá frustrá-las, pois é na diversidade que o mulherengo se sustenta.
Há um exagero na lenda de que não pode ver um rabo-de-saia. O caso é que, à primeira vista, percebe o que a diferencia das outras. Insinua-se, não como um Don Juan, que seduz para conquistar, pisando macio. Mas como eu sou o homem, autoconfiança essa que faz a mulher crer que ele está apostando suas fichas nela, tal como ela se vê no espelho. Acostumado a pular a cerca, deixa sua esposa particularmente louca, quando a relação está ótima, sem problemas, e descobre que a traía sistematicamente, sem cultivar a mínima preocupação em se envolver emocionalmente com uma de suas escapadas.
O mulherengo iniciava sua carreira como galinha, no tempo em que o sexo antes do casamento era proibido à pobre coitada da virgem, cuja única opção para fazer amor seria casar-se. Uma ótima desculpa para o galinha variar até encontrar uma garota que bem compreendesse as reais necessidades de um homem e se adequasse à volúpia de amar sem freio moral. À falta de membros, superiores ou inferiores, para a necessidade de tanto sarro, esfregões, mordidas, dedadas, unhadas e chupões, aflorava a mulher galinha. Bastava ela trocar de namorado e sinalizar que proposta de casamento não a compra. Não mais se contentava com o pouco que não satisfaz.
Com a liberação sexual, ambos deixaram de ser galinhas e partiram pra cima, um do outro, quando descobriram que é natural sentir desejo por várias pessoas e não querer, de livre e espontânea vontade, ficar eternamente preso a um só. Isso não é natural, o ser humano não foi feito para a monogamia.
Até você ser fisgado pelo amor que arrebata, deixa-o possessivo, inseguro, com medo de perder a amada, se der vazão a todos os impulsos sexuais por terceiros. Procura sossegar para se estabilizar, com medo de ela vir a se apaixonar por outro melhor e pretender se livrar logo de sua instigante personalidade.
Contudo, o mulherengo vence todas essas crises. Chamam-no de traidor, mentiroso, que não presta, que não tem caráter. Nada cola nele. Se bobear, ele se casa, de novo, imbuído de descaramento e cinismo, amargando a boca de conservadoras, que não encontram outro discurso senão que o homem é um incorrigível mulherengo. Galinha, safado, encantador. Quando não faz mais sentido a mulher reclamar; ela é livre para largá-lo à hora que bem entender. Para deixá-lo à mercê de si mesmo. Se aceita ficar, é porque quer, ninguém a obriga. A não ser a esperança de o futuro vir a reformá-lo.
Apressemo-nos em expurgar o mulherengo, tal como o galinha já foi pro espaço. O tipo vulgar ficou restrito apenas às mulheres com vocação para o masoquismo, a autopunição e a humilhação – daí retiram o prazer. Enquanto elas vacilam, eles prosseguem aprontando. Para deixar claro que não precisam delas para nada, que ainda são ativos sexualmente e que o desejo é um condicionamento ao qual estamos escravizados.