Luma de Oliveira nesse carnaval suscitou o tema de as mulheres poderem se vestir e sair às ruas sem calcinha, ao ser assim fotografada como destaque da Viradouro, alegando em sua defesa portá-la na cor da pele, argumento considerado falho pelo bloco de carnaval fundado na causa, intitulado Eike marido bom!
Estamos a viver uma nova era de costumes em que a mulher, insaciável, reivindica, exige e deseja mais, só restando ao homem assistir, de camarote. O uso corrente sempre foi de tentar aprisionar a vagina ao se pôr fim no desregramento pré-cristão, seja colocando-a a ferros nas torres de castelos, segregando-a em mosteiros, aferrolhando-a em cintos de castidade, até as solertes ameaças hodiernas de amordaçá-la com corpetes, anáguas, calçolas, Tampax e calcinhas, quando não era o homem que se introduzia para calá-la definitivamente.
Apesar de a Igreja haver sacramentado que exibir a genitália no carnaval é sacrilégio, a mulher acordou para a necessidade de sacar essa peça incômoda desde que Lílian Ramos levantou a questão para o presidente Itamar no auge da folia do Sambódromo, eriçando seu topete e ungindo FHC nosso sucessor. Tanto ela tinha razão que virou celebridade, com direito a marido rico e palazzo na Itália, incluída em lista dos mais elegantes de revistas parisienses, ao lado de Gérard Depardieu.
No início, sente-se um certo desconforto em dormir nua, pois o novo hábito exige amor desusado pela nudez e desfilar pelada por entre os cômodos do lar. O processo de conscientização passa pela calcinha marcar o corpo – que coisa vulgar! – e divide a bunda adentrando com material estranho em recinto que demanda cautela. Há ainda que vencer a barreira da vergonha de subir a saia com o vento safado da Marilyn Monroe. Sem contar o velho pudor: causa excitação enorme quando ambos os sexos imaginam a esvoaçante saia, sem calcinha. O choque apenas transparece o desejo de experimentar e não ter coragem, ou de querer ver somente nas mulheres dos amigos.
Não usar calcinha é um toque de elegância, positivamente é um estilo que atiça os “homens que vestem uma mulher”, como apregoa a propaganda, se deixando envolver por essa nova cara e assumindo sem medo ela, que se sente à vontade, protegida na aceitação inconteste, querida como a rainha-mãe, tão gostada e amada que alfineta as que resistem em permanecer no estado virginal não abortado.
Mas o homem, via de regra, não se encontra preparado para esse desmanche e prefere não tomar conhecimento de que ela não está usando calcinha, porque se souber, não vai precisar olhar se está ou não, isso é tarefa de fotógrafo. Prefere, através de suas sensações primárias, conduzir seu barco segundo o rumo ditado por seus complexos, recalcado na frustração de não poder interpretar mais essa iniciativa das mulheres em ampliar as suas demonstrações de amor e redirecionar seu horizonte afetivo.
Quisera ele possuir um coração ingênuo e com pureza d’alma encontrar sua alma gêmea, sem calcinha, que o completasse numa magnitude que nem sua mãe edipiana a superaria. E é isso que dá medo.
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