Os homens sempre se incomodaram com o espírito livre, criativo e dinâmico de certas mulheres, que vivem intensamente o aqui e agora, sem contas a acertar com o que passou, nem grandes preocupações com o que virá. Possuem liberdade de sobra para conquistar seu próprio mundo. São filhas de mães que reclamavam de sua rebeldia, ao equivalerem ousadia com insensatez, obrigando-as a não pedir licença para nada. Apenas comunicavam, arrastadas por projetos e desejos novos.
Eles não conseguem acompanhá-la nem compartilhar os bons fluidos, rastejam para tentar aprisioná-la ou ditar regras. Como, por exemplo, propor casamento de imediato ou torpedear o equilíbrio emocional dela anunciando que um filho seria bem-vindo, quando a fábrica já tinha fechado. Ou então optam por serem obedientes a essas mulheres. Passivos. Se põem a seu serviço e aniquilam qualquer iniciativa pessoal ao desistirem de escolher seu próprio rumo.
Enlouquecem pensando que essa mulher, linda e selvagem, não pode ser de um homem só. Ela sabe como deixar um homem fora de si. Com uma vibração que anula sua fleugma. Ardente, principalmente quando começa a mirá-lo, brincando com um Mentex, de um lado para outro na boca, a bolar algo que o mantenha pulsando de excitação. Quem se perder nas suas entranhas não desejará abandoná-la jamais. Voraz, entorpece e desvirtua. Torturadora de alma despreparada. Alimenta o possesso que habita todo homem em querer penetrá-la por todos os poros e possuí-la por inteiro, inspirando a devassidão. Ao evoluir do frisson para o estado febril que o consome, treme nas bases e marca passo, fixado na sua expressão que lateja fantasias de tê-la só para ele. Tornando-a sua fêmea, à mercê de seu desejo de tirar o fôlego, um vulcão que necessita de uma gueixa para extingui-lo.
As mulheres turbinadas incendeiam sua imaginação fértil e sedenta de tour erótico que sempre o descaminha para a zona da perdição, reflexo de brincadeiras perversas e provocantes que enriqueceram sua adolescência, em flagrante descompasso com a idade da inocência.
Mantendo-o atado, como se ela o tivesse manietado por estar apaixonada e não querer perdê-lo, no ciúme mais doentio de que se tem notícia. Na verdade, não lhe diz respeito essa fantasia, se ele prossegue condenado a ser escravo do seu modelo de criação desde a gênese. Desde a fôrma de Adão, do qual ela foi clonada a partir da costela e não cometeu o pecado original de repetir-se por repetir, pautado pelo sexo reprodutor. Apenas servil se manteve à sombra do homem até que o sol deixasse de nascer quadrado para vislumbrar uma lua cheia plena de êxitos.
O olhar racional do homem não se apercebeu, fotografou, não sacou, não previu. Ora, se pintaram as Madonas sem pêlo na Renascença é porque censuraram muito, cegando a si próprios quando duvidaram que a liberdade de expressão ganhasse vida própria na mulher. Uma liberdade que a pusesse em marcha, acelerasse e turbinasse, com uma ligeireza que só a visão de uma ave de rapina detectaria.
Por mais que os homens tivessem cruzado o globo terrestre em busca de novos continentes, miscigenando povos com o propósito de construir outros horizontes em torno da família, mantiveram-se atados à tradição de penetrar, invadir e se apossar, erigindo suas riquezas sobre pilares e assentamentos evocando sempre a exploração. No nobre objetivo de suar menos para sugar mais, no que a mulher tem de melhor: a disponibilidade para o amor, no que diz respeito à magia e encanto diluindo a estreiteza das horas que sublinham perguntas que não querem calar.
Perderam o bonde da História.