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NADA COMO O TEMPO PARA RESOLVER

Não que o tempo vá resolver problemas de um modo geral. Mas
deixa essa impressão. Se examinados hoje, podem ser encarados de uma maneira, e
amanhã, de outra. Na semana que vem, ao reverso. Com o passar do tempo, o
tamanho do problema pode tornar-se menos grave. Não é que se apequene, mas
cria-se um distanciamento que transforma o reclamante em menos crítico.
Passível de perdoar com mais facilidade. Quando descobre que a primeira
impressão é a que fica, que foi apenas um susto, logo voltando a recuperar a
calma.

Já se ficamos por demais envolvidos, atropelados por nossas
emoções, pondo a perder o nosso universo racional, só mesmo depois da
tempestade, quando as águas calmas predominam no ambiente, e se resistirmos, é
que podemos nos dar conta do quanto somos capazes de transformar.
Contudo, se o infinito se faz presente, o tempo, de aliado,
pode passar a ser inimigo. É quando nos defrontamos com muitas dificuldades
para descobrir a sutil diferença entre o que se deve deixar passar batido e no
que nos deixamos ficar retidos. Apegados a alguma razão que ficou no passado e
não conseguimos atualizar. O que instaura um estado de confusão entre algumas
situações que se acalmam com o passar do tempo e outras que apenas se acomodam,
proporcionando-nos a ilusão de que o tempo apenas as está cicatrizando. Quando
sequelas de insatisfação concernentes a coração e afeto não se resolvem e não
se tornam menores com o correr do tempo, criando raízes que vão rompendo com o
nosso chão.
Sonhamos com um dia acordar e tudo se apresentar de forma
diferente. O amor perdido se diluir e a vida alcançar o melhor dos mundos, no
mais alto de nossos sonhos.
Ledo engano! Certas coisas precisam de um toque especial,
carecem de nossa vontade e força, a envidar maior disposição e fé.
O tempo de amanhã pode ser igual ao de hoje, mas nós não
devemos ser os mesmos, se estamos morrendo por dentro, silenciosamente, e não
aprendemos ainda a dizer “não” ao que não nos convém nem nos
satisfaz.
Para que amanhã, olhando para trás, não tenhamos tantos
arrependimentos. Sentindo que o tempo passou, mas não passou incólume, pois
tivemos a sabedoria de caminhar em compasso com o nosso tempo, nem mais nem
menos.

Antonio Carlos Gaio:
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