NÃO É FÁCIL O MERGULHO DO ESPÍRITO NA CARNE

Na vida terrena, estamos condicionados ao mecanicismo de acordar, se locomover, ir à escola, trabalhar, falar, comer e dormir. A biologia considera os seres vivos explicáveis por meio de uma série de causas e efeitos de origem estritamente físico-química, numa visão cartesiana de que somos animais racionais que funcionam como uma máquina. Sujeitos a pane e ao fim da vida útil.
Se voltarmos os olhos para dentro do corpo humano e observarmos órgãos vitais irrigados com sangue e o oxigênio sugado para nos manter vivos, é aceitável considerar tudo mecânico, operando como uma fábrica. Menos o pensamento, que é do campo do espírito.
O espírito que persegue uma existência que marque sua presença e transforme a paisagem inútil em um campo florido e vivaz, que assume cores e matizes na dependência de suas diversas experiências, boas ou más, que conscientemente enfrentou-as sob o livre-arbítrio de sua administração, habilitando-se a extrair de suas memórias pregressas, como aprender a utilizar a força do pensamento. Na medida em que demonstrou sua capacidade em se deslocar de um extremo a outro, pondo à prova seu discernimento em não alimentar polêmicas inúteis e facilitar o diálogo com o próximo. Demolindo a gratuidade da antipatia.
Nada que o tenha livrado de alguns impactos que o fizeram contrair doenças psicossomáticas, de maneira a bem aprender quem você é e, portanto, autenticar sua própria identidade. Como se tivesse aparecido numa tela o reflexo de seu interior, como o seu comportamento o induz a reagir, com o intuito de analisar a forma de ser do seu espírito. O espírito fica sobressaltado de ver refletida a assombração do repertório de suas práticas ruins. Atrai o remorso e o arrependimento. O tempo não volta atrás, doloroso lembrar.
Pela inutilidade das questões que a gente leva a ferro e fogo. Quando estamos em treinamento. O comportamento danoso somente será eliminado quando estiver plenamente consciente de que não mais irá repeti-lo. Os impactos farão você progredir e perceber que está mais inteiro, desperto e conectado do que antes. Sentindo que existe algo de diferente em sua essência.
Apto a estabelecer uma analogia da vida no Plano Espiritual com a morte no plano terrestre. O afã de manter-se vivo para não ingressar no reino dos mortos – sabe-se lá o que nos reserva? O sentimento generalizado de não se aceitar o fim irreversível da existência, chorada no enterro, reforçado pela ciência lutar denodadamente para nos tornar imortais. Ninguém aceita partir, em sã consciência. Na outra ponta da linha, de forma semelhante, também não é fácil o mergulho do espírito na carne, quando da reencarnação, subordinado ao corpo, que limita o sentido do Universo, reduz as percepções e obstrui a flutuação do espírito – que viaja no pensamento, livre do corpo.
Abandonar a consciência em larga escala da vida no Plano Espiritual, com o predominante espírito de entrega a carentes de solidariedade e compreensão, para reencarnar numa floresta imensa por se embrenhar, sem luz, repleta de pobres de espírito, faz com que seja imprescindível apagar da memória essa consciência. De modo a nascermos cheios de dúvidas, relutantes, incrédulos, desafiadores, rebeldes sem causa, necessitando de pais e irmãos que nos recebam com carinho e solicitude, para o amor se espraiar pelo mundo afora e superar nossos temores.