Os historiadores tucanos devem estar muito irritados com o segundo mandato de Lula em que o povo ignorou o mensalão e a oposição ficou sem bandeira.
Descobriram agora que um membro da família real portuguesa foi o maior governante que tivemos até hoje. O maior democrata do Brasil foi um monarca, no nível do Juscelino; custa lembrar que Brasília não foi construída por escravos. Dom Pedro II, o modelo, simpático às reformas como Jango; mas como, se a Bolívia aboliu a escravatura em 1831? Ficou no poder 58 anos e conseguiu ser tão minucioso quanto Jânio em seis meses, apesar do ócio que rege a aristocracia. Um escritor prolífico como FHC, que escreve para defender seus dois mandatos e vender seu saber para conferências no exterior. E, finalmente, sintonizado com o povo como Lula; quando nunca se viu o imperador abraçado a um escravo e liderar uma escalada pela alfabetização. Se ainda fosse seu pai, que não recusava sequer beijos de negrinhas, desde que ao abrigo do recato da alcova, ainda vá lá.
Dom Pedro II nasceu brasileiro, recebendo o Brasil de mão beijada aos 14 anos, bem orientado por tutores sob a batuta de José Bonifácio. Para que ir com sede ao pote se o cargo era vitalício? Tratou-nos com muita fidalguia, não meteu os pés pelas mãos, pudera, não possuía o perfil sexual de Dom Pedro I, que disporia das benesses do poder e gastaria a rodo com suas amantes. Mas não há como compará-lo com os nossos deputados, que dobram seus salários e disputam cargos públicos com o senso de direção de ratazanas. O mandato de quatro anos os torna voluptuosos.
Considerar que a imprensa nunca foi tão livre como em seu reinado, por conta de algumas charges realmente hilárias, e o respeito às eleições, como se fosse representativo da voz do povo uma sociedade monarca e escravocrata, só pode transparecer um profundo desgosto com as cores de nossa democracia. Liberdade de provocar saudades foi a dos anos juscelinistas e janguistas, a ponto de provocar o golpe de 1964. Eleições dignas de registro, em matéria de garantir a vontade do eleitor, foram as de Collor e Lula de 2006, diametralmente opostos em termos de conteúdo político.
Dom Pedro II só se manteve no poder porque prolongou a escravidão até onde não mais pôde. Quando atingiu os interesses da elite econômica e política libertando os escravos, mandaram-no para o exílio. Se o Barão de Mauá já havia causado mal estar ao imperador ao passar-lhe a pá para a primeira cavucada de terra que iniciaria a construção da primeira estrada de ferro em território brasileiro. Trabalho braçal era coisa de escravo na terra. Patrão e empregado seria um desafio para a república. Imperador com ideais republicanos não combina, assim como a linguagem professoral de FHC não conversa com a linguagem sindical menos escolarizada de Lula.