NÃO SE TRAI QUANDO ESTÁ SE AMANDO

– Eu não posso ter outra mulher, se eu estou te amando!
Caso contrário, o amor não é verdadeiro. Estarei traindo a quem eu jurei amor. Decepcioná-la-ei por minha falta. Ou será falha de caráter? Pois se ela me satisfaz e preenche todas as minhas medidas, por que haveria eu de provar o sabor de outra? Se estou totalmente absorvido pelo amor de por quem me apaixonei. Não sobra espaço nem tempo útil.
Todavia, se consegui me bipartir é porque meu amor não é uno, e nem por isso menos legítimo. Simplesmente não posso me deter por um espasmo de moralidade e pensar que estou te traindo, quando o amor, decantado em verso e prosa, não obedece a limites. Não que eu vá me rasgar de amor e me dividir em mil seres ardentes de desejo, mas também não posso aceitar ficar no meu lugar, fingir que está tudo bem e que nada me abala.
Sei que merecerei desconfiança e má vontade por despertar egocentrismo e insensibilidade, mas sei também que estarei livre para amar não do jeito que vocês pensam que se deve amar, seus grilos falantes! Vocês não enxergam nada além da burocracia, exigindo referências, enquadramento, linearidade – um código de honra. Escorraçam o infiel que deixou de amar, intimando-o a, no mínimo, mostrar boas maneiras e disfarçar a canalhice.
Não sei com que moral, pois se ainda não atinaram com a incapacidade de dominar suas emoções e o desgoverno de seu querer e, por isso mesmo, já não conservam mais seus sonhos.
Se falecem suas forças e o homem deixa de viver, é porque, lá atrás, deixou de amar ou, em algum momento, não foi correspondido, conforme suplicou a Deus. A vida é maravilhosa, se não receia avançar. Os confrontos existem para decidirmos por qual estrada escolher. Se o mundo lhe parece inóspito e cruel, assegure-se de que nada é permanente, nem mesmo os nossos problemas. As grandes conquistas são aparentemente impossíveis. Porém, se permitirmos, ao adquirir novos conhecimentos e elevando o nível de inteligência, nos tornar céticos e ficarmos empedernidos, pensando em demasia e sentindo bem pouco, é porque fizemos mau uso da liberdade e nos extraviamos da beleza a caminho do encanto.