“Não sou de direita nem de esquerda porque o mundo de hoje é muito mais complexo.” Marine Le Pen, cujo partido (Frente Nacional) é de extrema-direita, é quem o afirma depois de sufragar uma vitória surpreendente nas eleições municipais francesas, que a habilitará a saltos maiores. Seu programa político defende o fim do euro, a saída da União Europeia, a repressão à imigração e o restabelecimento da pena de morte, promovendo-se como uma espécie de cruzamento entre Evita Perón e Joana D’Arc: protetora e protecionista próxima dos pobres e excluídos, inimiga das elites, mãe única cristã de um país farto da classe política e assustado diante de possíveis invasões muçulmanas, ciganas e estrangeiras. O protótipo do samba do crioulo doido francês. Parecidíssimo com Collor. Querendo implantar um peronismo à francesa e depurar a França dos imigrantes, a própria demagoga explorando o fastio com os políticos que não fazem nada (no mundo inteiro, não é só no Brasil), para pretender demonstrar uma intimidade com o povo que me faz crer que é de direita, retrógrado e ideologicamente deficiente quem diz que não tem lado ou não veste uma camisa ou simplesmente não simpatiza com qualquer agremiação – salvo os anarquistas, que constituem uma bandeira -, para, na hora de votar nas eleições, optar por uma Marine dessas. Esse segmento anódino faz questão de mostrar-se descrente para confundir, de propósito, de forma a colaborar para despolitizar cada vez mais e vender suas ideias estapafúrdias sem a menor consistência, senão fascistoides, geralmente cravando no candidato menos progressista.