Não tem nada de mais Emmanuel Milingo se casar com uma acupunturista coreana, embora batizada com o nome de Maria Sung. Mesmo em ele sendo arcebispo da Igreja Católica, pois o sacrifício da vida em celibato já serviu ao seu propósito, vamos e venhamos a vocação do casamento e o seu espírito sagrado ressurgiram.
Não tem nada de mais um sacerdote negro de Zâmbia se unir em núpcias com uma asiática. Mesmo ele tendo quase o dobro da idade e não descartar a possibilidade de ter filhos depois da lua-de-mel, afinal Abraão foi pai aos 100 anos. Só Deus sabe quão lutou com seu coração por tanto tempo para dar esse passo inesperado e ousado.
Não tem nada de mais para Milingo contrair laços matrimoniais nos salões do Hotel Hilton em Nova York, numa das 60 cerimônias celebradas pelo reverendo Moon naquele domingo, já que sua Igreja perdeu contato com o povo que deve inspirar e com a hierarquia religiosa que deve comandar. Messias ou não, Moon também reza na cartilha da Bíblia.
Não tem nada de mais para Maria ter o noivo escolhido por Moon dias antes, seu pleito de encontrar um companheiro e casar-se é justo, humano e comovedor. Mesmo em ele sendo a ovelha negra do Vaticano com suas sessões de exorcismo e missas-shows.
Aceitar os ritos de outra igreja que não a Católica de Roma é crime de apostasia, passível de excomunhão, pior que o abandono do celibato. Excomungar hoje é associado à Inquisição, porque identificado como símbolo de uma Igreja intolerante e autoritária. Incoerente com o perdão proclamado pelo papa polonês aos judeus, índios, ortodoxos – a lista é longa e não pára no Giordano Bruno. Os últimos foram o bispo Lefebvre – não se conformou com a supressão da missa em latim e rezá-la de frente para os fiéis – e os filiados ao Partido Comunista, quando Pio XII entrou de corpo e alma na Guerra Fria.
Dentre as suas proezas, João Paulo II derrotou o comunismo e expurgou a Teologia da Libertação do ideário católico apostólico romano. Ao beijar o solo de cada país que visita, granjeando as boas graças de ovelhas desgarradas e congraçando seres multirraciais e miscigenados que somos, nunca pensou que fosse estimular tanto o amor e o companheirismo de que tanto carecemos.
Não tem nada de mais, se o caminho é o altar. Menos para o virgem santo Milingo, que voltou atrás face à ameaça de expulsão e negou Maria três vezes diante do Papa, mantendo-se fiel à Igreja. Apenas pulou a cerca como tanto outros maridos para sentir o gosto do pecado e não morrer em vão.
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