Se o prefeito Crivella se elegeu para acabar com o Carnaval do Rio de Janeiro e com a própria Cidade Maravilhosa, sem que nos fosse advertido em campanha, melhor deixá-lo na salmoura para um dia ele virar repasto de gato.
E num Brasil sem graça e com permanente mau humor que assola os que foram eleitos rastejando-se para o Bolsonaro, nada melhor que navegar pelo Carnaval que mais cresce no país: “Êh, êh, êh, São Paulo! São Paulo da garoa! São Paulo terra de gente boa!”. Através do abre-alas Confraria do Pasmado, um dos maiores e mais importantes blocos da desvairada Pauliceia, cujo tema será CarnalCracia.
Um neologismo para marcar o posicionamento do bloco: “Chegou o tempo da tolerância, do amor, do respeito, da liberdade e da festa. E assim que deve ser o nosso país o ano inteiro. Um lugar livre de preconceito, discriminação, autoritarismo, assédio e violência”.
Respeito no Carnaval? Quando a palavra de ordem devia ser brincar, sacanear, zoar, transgredir, claro que sem dar lugar ao assédio machista e sem noção.
Porra, ô meu! Votaram em massa no Bolsonaro e querem uma São Paulo livre de preconceito, discriminação e ditadura? Sem partidarizar contra esse ou aquele político? O Carnaval vai além de qualquer identidade partidária? Tipo Carnaval sem partido? Imitando a Escola sem Partido? Se à época o ditador Getúlio Vargas era sacaneado. Já a ditadura militar, nunca!
O pluralismo alardeado para defender a liberdade e o não ao ódio ou à repressão é desmentido pelo anúncio da saída do Carnaval paulistano do Bloco Soviético, associado a pautas de esquerda, após a vitória de Bolsonaro na eleição presidencial e da mudança radical do contexto que vem desde 2013. Não é mais engraçado brincar de comunismo quando a acusação de fazer parte de suas hostes se tornou uma caça às bruxas e efetivamente perigosa, tal como nos tempos da Guerra Fria. A esquerda desconhecia que o comunismo tinha penetrado e criado raízes tão profundas no Brasil – porque associado a Lula.
Sabe do que mais? Apesar da múmia paralítica do Crivella, Carnaval de 2019 é no Rio de Janeiro, por ser mais acintosa a desconsideração, a malícia mais “venenosa, eh, eh, eh, eh, erva venenosa”, e ironia cruel como na letra do samba do tradicional Bloco Simpatia é Quase Amor, quando comemorará seus 35 anos de existência indo direto ao assunto e não fazendo média de lero-lero com democracia:
“Ninguém manda no meu carnaval infernal / Nem pastor, nem capitão e nem juiz. / Troquei canhão pela flor, / cantei um samba de amor / pra conquistar Democracia / e não vou retroceder nos ideais”.
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