No centenário da Revolução Russa, em 2017, um Lenin muito diferente do imaginário ficou exposto por cinco dias na Solyanka State Gallery, museu de Moscou voltado a performances. Tratava-se do artista russo Fyodor Pavlov-Andreevich, nu, deitado durante horas, representando assim o corpo do líder bolchevique em seu mausoléu. O performer convida o público a interagir com seu corpo nu, que atua como um instrumento musical: quanto mais intensa for a interação, mais alta vai ficando a música ambiente. Durante a performance, o corpo deixa de ser do artista e passa a ser uma obra de arte. Em um museu, não pode se tocar em pinturas ou esculturas, e a performance é uma das únicas possibilidades artísticas em que a interação com o público não só é permitida como passa a ser parte da própria obra – essa é a concepção artística do nu diante de pais e filhos (menores). A performance chega ao Brasil no Sesc Consolação, em São Paulo, e com a possibilidade de vir para o Rio de Janeiro em 2018, após os recentes incidentes envolvendo as exposições “Queermuseu”, cancelada em Porto Alegre, e “La Bête”, no MAM-SP, em que uma criança tocou no pé do ator Wagner Schwartz, que estava nu – manifestação considerada pedófila pela onda conservadora que se apossou do país imergindo-o nas trevas. Em 2016, Fyodor se exibiu aqui no Brasil sem nenhuma polêmica, mas o golpe deslocou o foco das atenções para a arte, como arma de campanha política, suprimindo tudo relacionado a vanguardismo, avant-garde, “pra frentex”, cabeça aberta, futurologia, anos-luz à frente, condenando o nu masculino em pleno século XXI. Se fosse uma mulher nua, a repercussão seria diferente, porque o corpo feminino é considerado de utilidade pública para mentes prostituídas, aliás, reflexo fiel na classe política. Já o corpo masculino é a representação do poder, e quando um homem se desnuda e se coloca vulnerável diante do público, a sociedade não aceita. Preocupam-se com as crianças brasileiras diante do nu explícito em museus, mas não passa pela cabeça dessa gente desinformada o número crescente de pais que tomam banho nus junto com os filhos, desde cedo. Justamente para desmistificar a nudez.
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