O aborto é um divisor de águas. Se a mulher se encontra em processo irreversível de equiparação ao homem, é justo ela planejar ou se prevenir quanto à gravidez indesejada, já que a obrigação de reproduzir que pesa sobre o sexo feminino vem perdendo espaço. Conquistaram a liberdade de escolha de ter ou não um filho. Mas os anticoncepcionais e o serviço médico preventivo são combatidos por religiosos antiaborto, de todas as espécies, em função da melhora do nível de informação facilitar o acesso à educação reprodutiva, incentivando, na prática, ao aborto. E a tendência é procurar o açougueiro da esquina, que cobra mais barato. Demanda essa que aumentou em virtude de a mulher ter se emancipado dos desígnios machistas que a sociedade e a religião impunham a ela. Portanto, fechar os olhos para a realidade de mulheres recorrerem a clínicas clandestinas e se submeterem a abortos malfeitos, é largá-las ao abandono. É o grupo em favor da vida se arvorar no lugar de Deus e condenar as pecadoras a morrerem no transcurso da interrupção da vida. Imiscuindo-se no livre-arbítrio de casais sobre a formação da família, que terão de suportar, mais cedo ou mais tarde, o arrependimento de abortos realizados, seja em nome de que causa. O aborto é uma questão de saúde pública para proteger a liberdade de opção e a saúde da mulher, até para ela poder reproduzir de novo, mas também significa tirar a vida de quem já foi encomendado para encarnar e quebrar a cadeia evolutiva, deixando seqüelas nos seus pais, pois o feto já possui alma. Ou bem se dirige o ser humano para evitar de ele atentar contra a Vida, ou o libera para sofrer as conseqüências de seus próprios atos e aprender a conhecer melhor sua natureza, de modo a reformar seu caráter errante ainda predominante.