O amor de seus pais biológicos, Violeta Graciela Ortonaldi e Edgardo Garnier, militantes da Juventude Peronista, assassinados pela ditadura argentina (1976-1983), venceu o ódio de militares que foram capazes de torturar Violeta de 23 anos, grávida de oito meses, e matá-la após o nascimento da filha, entregando o bebê para uma família desconhecida.
Em 2017, foi providenciada a exumação do cadáver de sua avó materna e veio a confirmação pelo teste de DNA que a advogada Adriana Consentino, de 40 anos, é filha do casal de desaparecidos políticos. A neta número 126 de um total estimado em pelo menos 400 bebês nascidos em centros clandestinos de torturas. Sua história não é como a de muitos outros filhos de desaparecidos que foram roubados ao nascer e que, quando descobriram, romperam relações com os pais adotivos, muitos dos quais terminaram envolvidos em processos judiciais e até presos.
Os pais adotivos de Adriana já morreram e ela garante não sentir rancor e valorizar o afeto que deles recebeu, a ponto dela incrivelmente se parecer com sua mãe adotiva, tanto que, quando ela faleceu de AVC em 2014, quis ir junto e passou a usar sua aliança de casamento.
Uma história mal contada que demasiadamente se alongou, diante das evasivas dos pais de coração (assim os chamava) às perguntas frequentes, cujas dúvidas cresceram quando Adriana, ainda criança, se emocionou e se identificou com o filme argentino “História Oficial” – vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 1986. Provavelmente a história oficial de Adriana ainda seria outra se seus pais de coração não tivessem desencarnado ou ela não cedido às pressões deles para se formar em Direito, embora ela quisesse ser professora de História, o que acabou por fazê-la militar no movimento das Avós da Praça de Maio para resgatar outros netos objetos de crimes da ditadura – o que não era o que os pais adotivos tinham em mente e para gáudio dos pais biológicos desaparecidos há 40 anos.
Ainda viva, a avó paterna Blanca Diaz de Garnier, de 86 anos, contou que Edgardo Garnier, o pai de Adriana, decidiu se entregar porque não imaginava a vida sem Violeta Graciela Ortonaldi, a mãe de Adriana sequestrada fazia um mês.
Em nome do amor, entregou-se às garras da monstruosidade da ditadura militar, que executava pais para destinar seus filhos recém-nascidos aos simpatizantes do regime sanguinário pois não podiam tê-los – do amor de Edgardo e Violeta, a utopia do amor eterno. Afinal reconhecido pela Justiça Divina, que obrou através dos espíritos de Edgardo e Violeta para que a alma de sua filha Adriana ganhasse relevo e saísse do limbo, encontrando sua verdadeira identidade depois de 40 anos, com o amor canonizado condenando o ódio ao ostracismo.
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