O triângulo está sempre presente em nossos destinos. Assim como a Santíssima Trindade, uma relação amorosa para ser boa de verdade tem de conter os três elementos: eu, você e nós.
Contudo, o homem é assimétrico. Para cada unidade não há padrão que dê jeito. É capaz de, ajustado a um bom casamento, sem transparecer qualquer sinal de anomalia, desatrelar-se e perder o fio da meada, alterando o destino de seu trem para entrar no túnel e procurar luz no fim de suas trevas.
Só porque foi tocado pela sensibilidade de uma mulher, nem bonita nem feia, sequer sensual, mas que o atraiu por um ponto nunca antes reparado e que ele nem saberia descrever. Para, ao menos, dividir sua emoção conosco. Pois seria pedir muito compartilhar sua visão. Daria voltas e mais voltas para não sair do lugar.
Eu, você e nós quebrados por desviar sua atenção para o que não consegue explicar nem transparecer o seu sentimento quando colhido de surpresa – sua alma é capturada à sua revelia. Impedido de se defender, irrita-se. Por não ter o que dizer quando chegar em casa e as palavras trocadas virarem farpas e mudança repentina de humor, violando a concórdia com o mau tratamento. Pelo fato de o amor não se traduzir num idioma que ele possa compreender, já que procura expressar seu afeto sempre se mostrando solícito, disposto a tocar a vida em família, entremeando com gestos visíveis de carinho, mas não efusivos.
Seria um gesto tresloucado sair porta afora e trocar de cidade, deixando para trás um casamento sólido. Se o introvertido não pronuncia jamais “eu te amo”. Contudo, vieram lágrimas e inundaram o seu silêncio, pensando na inesquecível tarde de amor com Mademoiselle Chambom. A intrusa com aparência de frígida esquentou a alma morna do assimétrico.
Se ficar, ele não será mais o mesmo. Se partir, a inevitável mudança o lançará na incerteza. A um passo de se desintegrar.