A deterioração psíquica do homem ocorreu no mesmo compasso em que a mulher passou a competir em todas as instâncias, níveis e espaços, onde o homem imperava absoluto. Até chegar no amor. Não por outro motivo a insegurança criou um clima para instalar o bode de onde fui amarrar a minha égua, para estar do lado dessa maluca? É incerteza em cima de incerteza. Ela não se relaciona, compete, quer aparecer, discutir a relação, procura sarna para se coçar, não sossega o facho, não lhe dá tranquilidade e ameaça o reduto onde se esconde, são suas queixas.
Culminou por retirar a identidade do homem, sob pressão de suas conquistas e independência, que revelou ser excessiva ao torná-lo encolhido. O deixa comigo foi substituído por fugir à responsabilidade de encarar uma mulher que cresceu. Ao invés de enxergá-la como uma parceira com quem dividir a sociedade do prazer e não das obrigações. Mas se ele só sabe mandar e ela não o ouve, pior, não o acata, é porque as regalias pesam no interesse que cerca o romance.
Como fazer, então, se vier a se apaixonar por uma rival? De imediato, o desejo desperta no cotejo de duas forças antagônicas. Uma perfeita sintonia entre o desejo incontido de domar aquele ser bravio e o nível de ereção formidável num piscar de olhos, sem que ele saiba como e por quê. Mas o suficiente para confundi-lo com atração à primeira vista, face ao narcisismo que a exuberância da ereção desperta. Embora não fosse bem o que queria. Quando deduzir que a fogosa é rabo de foguete, Inês já é morta.
Estão exigindo demais dos homens, questionando o poder natural do macho, reclamam no pedaço. Não aceitamos mais um modelo de masculinidade baseado na força, virilidade e decisões inabaláveis, elas batem o martelo. Tornaram o homem o problema e se transformaram em inimigas a serem vencidas, declaram guerra. Recusam-se a ser objeto de discussão e a decretá-lo como o culpado da crise no relacionamento – audácia do bofe!
Se ele a conheceu ontem e não ligou nem marcou encontro, é porque não quis ou teme pelas reais intenções da gata em encerrá-lo numa gaiola – prefere o estado volátil. Se ele está de caso ou ficando com ela ou saindo junto, mas abre para outras mulheres, não é porque o homem seja assim mesmo, é sim por ser menos comprometido do que imagina a vã filosofia feminina.
A infidelidade é o terreno em que ele se recusa a que entrem para pura e simplesmente examiná-lo. Para que abrir seu repertório, se, de qualquer modo, vão chamá-lo de galinha, mulherengo, cafajeste, safado? Quantas mulheres, poderia me informar? Não se lembra, difícil computar, e ainda brinca com menos do que ele gostaria: 10, 20, dezenas, milhares, um montão, perdeu a conta. Com que prazer se derrama na imprecisão, de forma a não deixar dúvida de que não se recorda de suas parceiras sexuais ou de quem foi o grande amor de sua vida.
Se convocado a ir ao confessionário para se manifestar sobre o conjunto da obra criada sobre a infidelidade, far-se-á de autista. Como defesa para não mudar a sua essência que enferrujou. Ao andar no passo de cágado e lamentar não possuir o seu cascão para esconder suas partes íntimas, que só revelam o fiasco de suas bandeiras outrora padrões da sociedade.