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O BEIJO COMO ARMA

O homem não beija na boca da mulher que não o atrai; só se for de sacanagem. Ele só beija a boca da mulher que ama.
É por isso que a prostituta não permite que o homem a beije. Pode virá-la pelo avesso, transar do jeito que quiser, menos beijar. É uma relação profissional; o beijo atrai o amor. Ademais, não existe pecado do lado de baixo do Equador. Do pescoço pra cima, é lucro, é coisa séria. Tem a boca maravilhosa, que se contorce toda, mas tem também a razão.
O beijo na hora de acordar quando o hálito interfere. O hálito tem o gosto da individualidade, de quando você dorme, vira para o seu lado e nem dá bola pro outro. É o beijo mais íntimo, mais invasivo do que o pênis introduzindo na vagina. Se for querido, bem aceito e ultrapassado o hálito da noite, é o beijo que apaixona, cria elos e enraíza a relação.
O beijo no meio da madrugada quando o sono impede. É você se conectar com o conflito entre o relaxamento em que o sono nos imerge e o desejo, ereto. Depende da necessidade de repouso, mas o desejo sempre vence, se o amor é grande pra caralho.
O beijo é que vincula a relação e faz desabrochar o afeto.
O beijo é domínio absoluto dos homens, como arma. Depois de conquistar, ele se extasia com a fantasia de poder controlar desde o entorno até o interior da amada. Amor, reafirmação e poder andam de mãos dadas. Por isso detesta que prostitutas lhe dêem limite; pois se são escravas do sexo!
Não gosta de ver sua iniciativa em beijar cortada, ainda mais quando suspeita que ela irá negociar condições. Seja puta ou não. Se não for, fica contrariado, já que não é cafajeste e não admite que ponha em dúvida suas intenções. Para que tanta frescura, necessidade de autopreservação, onde ela pensa que irá chegar?
Se o beijo também serve para experimentar e testar o sabor da atração, e verificar se grudou na pele. Se o beijo é bom que dói, que não doa mais e flua para dentro da alma.

Antonio Carlos Gaio:
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