Por que permitimos às pessoas que entrem à vontade tão dentro da gente? A ponto de levarem um pedaço de nós quando nos abandonam. Por que damos o melhor de nós e tanto entregamos tudo o que temos? Por que nos deixamos largar em mãos tão pouco cuidadosas em se tratando de nossos sentimentos?
Deveríamos aprender a permanecer à margem da vida, olhando de longe a inútil paisagem e nos locupletar com essa visão, como quem se fascina com uma miragem que subitamente desabrocha da aridez de um deserto.
Mas somente ficar no olhar não consome o prazer. Humanos que somos, à desumanidade nos dirigimos, quando precisamos mergulhar inteiramente no pecado e nos afogar.
Mergulhar em promessas de amor eterno, no amor de minha vida, na felicidade infinita e num autêntico mar de rosas. Se não vamos chegar à velhice inteiros e sem marcas visíveis de nossa trajetória.
Se os grandes artistas elevaram o peso de suas obras nos grandes momentos de sofrimento e dor, procure tirar o que há de melhor em si a partir de suas decepções. Se você não foi considerado à altura para aquele amor, tenha em mente que o amor é suficientemente elástico, abrangente e grandiloquente para recompô-lo de sua rejeição e oferecer sua outra face para você beijá-la.
Ressignificando um beijo aparentemente inocente e o transformando num beijo excitante, do tanto que se oscula no rosto, e se deseja deslizar para a boca. Mas ainda não sabe se é a ocasião adequada. Tão perto, tão longe. Isso é que é um dilema para esquecer na medida justa das malfadadas abordagens que implicaram em falsos amores. Tremendas ilusões. Delírio puro! Já o beijo no rosto, que consistência! Que indício seguro de amor! Se não paixão que se avizinha. Se não o mistério que se desvela. E, quando ambos se beijam mutuamente no rosto, o prenúncio do puro êxtase, do arrebatamento para sair de si e elevar-se a Deus nas alturas.
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