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O BLOQUEIO E O RÉVEILLON DE 2015

O mundo se divide no Réveillon entre duas tribos: a que acredita que o Ano Novo virá cheio de esperanças renovadas com outras no seu lugar, ou com as mesmas travestidas de uma nova fantasia, e a que não crê no Ano Novo por acreditar que, para sobrevir mudanças, há que fazer um trabalho de base, perseverar nos tijolos e se estruturar, desprezando o calendário romano. 
Esse último grupo é invisível, não faz alarde e é considerado pessimista e sempre não afinado com a maioria por seu espírito de porco. O primeiro grupo é mais alegre, o mais feliz, por sonhar, traçar novas perspectivas, acreditando que o Novo Ano trará a realização de seu grande sonho. É o que aparentemente ganha a batalha porque ao velho ano será impingido seguir a mesma trajetória e respeitar a tradição passada de pai para filho. Ou seja, ultrapassado por somente demandar trabalho e continuidade.
O Ano Novo leva a fama de quebrar barreiras, encontrar caminhos inexplorados, curtir uma nova tecnologia, tornar possível o amor impossível, passar a limpo o passado e fazer o futuro chegar mais próximo, conforme EUA e Cuba encostaram o rosto um no outro para voltar a se namorarem. Desta vez, como seres bem diferentes de quando se conheceram e sem mais poder impor um ao outro o que cada um pensa sobre que regime escolheu para semear e colher frutos. 
Como se depois de 53 anos, reputados como anos velhos por ambos os lados quando se miravam tão próximos e tão longe, face a uma mentalidade inquebrantável de não querer abrir mão do que orgulhosamente professam para suas gerações futuras, não irrompesse um surpreendente Ano Novo vislumbrando um fim a esse termo assustador do vocabulário do planeta: o bloqueio. 
O mesmo bloqueio que prejudica relacionamentos, sabota amores de formar famílias, rompe com amizades outrora sólidas, contraditoriamente impede o direito de ir e vir, enraíza anos velhos, e nos faz indagar, acometidos de um Alzheimer providencial, qual foi mesmo o propósito dessa guerra de ideologias. A mesma e aparente falta de propósitos dos anos velhos de duração da Guerra dos 100 anos entre França e Inglaterra, que sepultou o caráter feudal das rivalidades político-militares e inaugurou anos novos de futuros confrontos entre as grandes monarquias europeias.
Antonio Carlos Gaio:
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