Parece um castigo de Deus, é assim que se diz, quando o Mar Mediterrâneo engoliu o continente (perdido) da Atlântida e não deixou vestígios. Nem se sabe se foi verdade. A maior tragédia ecológica do Brasil que devastou o Rio Grande do Sul parece um castigo de Deus. Mas Deus não tem nada a ver com o que os homens fazem de errado. Só é invocado (em vão) para dar a dimensão da catástrofe. Quer dizer, algo impossível de ser evitado. Tamanha a desfaçatez da raça humana. Como desprezar uma alteração climática que revolveu toda a formidável bacia hidrográfica que norteia a geografia do país dos gaúchos e inundou-a de cima a baixo em nome de uma exploração agrícola que não se preocupa em conservar o meio ambiente, sob a ação predatória do homem, que ainda envenena os rios com mercúrio, diante da cobiça por ouro. Mas o governador tinha outras prioridades e o prefeito de Porto Alegre não cuidou do funcionamento das comportas e das bombas para escoamento de água bem como das barragens para deter as enchentes. Mas se Deus não nos castiga por nos revelarmos irresponsáveis, inoperantes ou incapazes de dar conta de nossos destinos, deixando tudo por conta do nosso livre-arbítrio, Ele está por trás do trabalho voluntário a promover a reconstrução do que foi destruído pela inclemência dos responsáveis pelo desastre. Quanto aos que votaram nesses negacionistas da Natureza, não crendo em sua reação implacável quando provocada, estão sendo castigados, não por Deus, e sim por não saberem escolher em quem devem votar para cuidar de seu bem-estar. Sofrendo as consequências de sua liberdade de escolha.