Mais um excelente filme argentino. Essa fonte inesgotável de cultura, seja no cinema, teatro ou literatura. Aliás, a cultura é posta em questão no filme sobre um escritor Prêmio Nobel da Literatura, que, por sinal, os argentinos nunca abiscoitaram. Ou a cultura tem de ser protegida contra a onda fascista e estúpida que assola o mundo, tamanho o seu analfabetismo no nível de banco de escola, o foco do filme, ou tem que deixar a cultura livre para enfrentar os inimigos da democracia e dar porrada neles com inteligência e arte. O filme desconcertante e sagaz de Gastón Duprat e Mariano Cohn, representante argentino na disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeiro em 2017, teve uma magnífica atuação de Oscar Martínez (melhor ator no Festival de Veneza), que enfrenta sua cidade natal de mentalidade provinciana e enraivecida por tê-los retratado em seus livros, confundindo ficção com realidade. O filme disseca minuciosamente o pensamento tacanho do que o ser humano é capaz num verdadeiro festival de sandices contra o bom gosto, de uma pobreza de espírito que o rebaixa a uma condição de ser obrigado a se rastejar, quando não amaldiçoa e persegue quem ousa escapar daquele antro e constrói um mundo diferente.
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