Uma nova biografia de Tchaikovsky põe por terra a ideia de que o célebre compositor teria imensos conflitos com sua homossexualidade. Casou-se para esconder seu amor por homens sob o manto sagrado do casamento e de um relacionamento posterior com sua mecenas, baseado mais na admiração artística do que no contato de corpos. Em concomitância, rendeu-se à formosura de um jovem e, em outros tempos, aos serviços de um garoto de programa sob a proteção das quatro paredes, em sua parca vida afetiva.
Sacrificar o amor, conter sua expansividade e dissimular preponderam no conflito do homem com sua homossexualidade. Até os dias de hoje. Com a mulher tendo como produto de sua marca atual a virilidade, incorporada à sua gênese graças ao seu espírito competitivo que foi ganhando substância à medida que o homem não acompanhava sua evolução. Nele resultando um sujeito acuado, encolhido e enraivecido com essa força natural e incomum que aflorou da mulher. O que converte esse tipo de homem num ser intocado, que procura se conservar numa terra de ninguém. Face à postura da mulher de ter sempre algo de importante a pontuar e aquilo não mais sensibilizá-lo de forma alguma. Há que fechar o caixão, pois ela não mais acrescenta à sua realidade.
Restando a ele duas opções. A primeira seria se tornar homossexual, ainda mais se tratando de instintos, algo que nem sempre podemos controlar. Se outrora manter relações sexuais com ela foi bom, hoje não goza mais de afinidades. Todavia, e se ele sair de cena, demonstrando não gostar mais de sexo nem de sentir falta, nem de estar a fim de procurar alguém, preferindo ficar isolado?
Mas se ele não nasceu assim! O que o levou a assumir esse estado anacrônico e antissocial? O gay da interrogação provém justamente do fato dele buscar o melhor convívio possível com o seu igual. Ou seja, com ele próprio. Isso é meio caminho para ser gay. A não opção é também uma opção. Retraindo-se para evitar uma situação em que não é capaz de segurar a onda é porque já está no caminho.
Embora não dê para falar em nome de todos os assexuados por não serem samba de uma nota só. Nem tampouco muitos deles assegurarem que ficar sem sexo é normal. Na maior parte dos casos, é por dificuldade com o ou a parceira, ou mesmo com a própria existência, soando a depressão braba que os aproxima do suicídio por não haver uma solução viável que tranquilize suas mentes e corações.
A segunda opção é ser bissexual. Para ir se defendendo como hétero vez por outra enquanto ainda não cumprida a maratona para se tornar homossexual. Ou então se sujeitar a todas as hesitações a que tem direito, ansiando por uma identificação que ponha fim às suas angústias. É um grupo considerado bom de cama por já ter desfrutado das diversas facetas da maçã proibida, mas que, nem por isso, deixou-o satisfeito consigo mesmo. Ficar fugindo do compromisso ou do engajamento para se filiar a inúmeros partidos nem sempre traz paz de espírito.
Lembrando Leonardo da Vinci: “Para estar junto não é preciso estar perto, e sim do lado de dentro”. Para entendê-los na sua acepção e decifrá-los. Tornando-se sua companheira. Ou seu melhor amigo.
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