Olha no que foi dar roubar 165 milhões do Banco Central de Fortaleza e transportar a dinheirama em táxis e aviões comerciais, expondo-se ao olho eletrônico dos aeroportos. Os ladrões se converteram em alvos da cobiça de seqüestradores, como se milionários fossem, e – por que não dizer? – da polícia. Sob o álibi de coibir a afronta ao aparelho de segurança do Estado. Que pena, logo agora que iriam se transformar em cidadãos respeitáveis, ao se vestirem elegantemente, terem unhas esmaltadas e complementarem a dentadura.
Embora a Justiça trate com dois pesos e duas medidas ricos e marginalizados. Graças à sensibilidade comovente do juiz Carlos Velloso com o sofrimento de um pai preso na mesma cela que o filho. Com seu voto de Minerva, soltou os Maluf. O tempo dirá se a estratégia de depauperamento de Paulo Salim, com barba por fazer e se utilizando de cadeira de rodas, deu certo. Da prisão resultou quadro agudo de depressão, instabilidade emocional e dificuldade de raciocínio, agravando o estado anterior de cardiopatia, hipertensão, infarto, próstata, hérnia de hiato e gastrite. Que pena, seu advogado foi cruel e valeu-se da mesma estratégia utilizada no caso Pinochet. Um abalo na sua auto-estima, que o deixou magoado com a injustiça perpetrada por promotores que vivem de instaurar perseguições. Terá de se conformar com a prisão domiciliar, pois uma comemoração implicará na privação imediata da liberdade.
O princípio básico da vida é a liberdade – vem em socorro o ministro Marco Aurélio Mello. Deixando-nos estupefatos depois do categórico “não” da população no referendo, em protesto contra o descaso da política de segurança pública.
O presidente do STF, Nelson Jobim, não ficou atrás e foi em socorro de Zé Dirceu – não se pode cassar o deputado quando ele era ministro da Casa Civil. Ao se preparar para assumir novas responsabilidades no ano que vem, Jobim desenvolveu uma tese libertária de que o Congresso pode se sentir encorajado a cassar o mandato de qualquer autoridade e ameaçar o equilíbrio dos três poderes. Como o do presidente do Banco Central ou do ministro da Fazenda, quando a política econômica evidenciar uma quebra de decoro de tão amoral que é, ao faltar verba para combater a febre aftosa ou o banditismo reinante. Poderá chegar ao cúmulo de destituir do cargo um dos ministros do Supremo por discordar de um eventual voto proferido em julgamento.
Aí alcançaríamos um estágio avançado de representação na nossa democracia em que poderíamos arrotar aliviados: o crime não compensa.
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