Para contrapor às paradas gays, os apolinários da vida, travestidos de vereador ou deputado, pretendem criar o Dia do Orgulho Hétero, de conotação homofóbica por associar o dia à defesa da moral e dos bons costumes. Vá perguntar às mulheres se os héteros têm moral de tanta porrada ou tiro que dão, quando suas esposas tomam a iniciativa de se separar por não mais aguentarem tanto mandonismo, rigidez ou dispor sobre sua vida como eles bem entenderem. Os motivos são rasteiros para o orgulho hétero, como ereção sem abalos, dar duas sem tirar de dentro ou acumular e exibir parceiras. O orgulho hétero é típico de machões autocentrados voltados exclusivamente para o seu desfrute egoísta e predador. Sentir orgulho de quê? Se os héteros se encolheram diante da reação da mulher, que avança em espaços outrora exclusivos dos homens e compete com eles no mercado de trabalho e do sexo, com sequelas nos desdobramentos do amor. Para não falar no gay que, pouco a pouco, como quem não quer nada, vai demonstrando que não existe tanta diferença assim do machão pro viado – ou orgulho hétero não soa meio gay? Sentir orgulho de quê? Se o hétero tinha que ser encaminhado para uma oficina de bondes a título de reparos gerais, senão vira sucata – melhor seria reinventá-lo. Pior é que a iniciativa da trôpega homenagem sempre parte de homens truculentos, retrógrados, retardados, pré-históricos e criacionistas condicionados a uma leitura ao pé da letra cujo parco alcance não consegue distinguir o que se passa nas entrelinhas. Pretender instituir o Dia do Orgulho Hétero logo na cosmopolita cidade de São Paulo com um prefeito gay (embora não assumidamente) é muita falta de sensibilidade, provincianismo e raciocínio estreito! Só podia vir de um partido anacrônico como o DEM. Por quais motivos, hoje em dia, o homem se orgulharia de ser homem a ponto de merecer uma comemoração? Só se fosse para dar uma lição à altura nos gays e mostrar o que é ser homem ou para celebrar com um bacanal em praça pública para reviver Sodoma e Gomorra.