Apesar de no mesmo mundo onde os ambiciosos por liderar regurgitam, em meio a seus amplos vícios, uma grande parte do que realmente importa em nossas vidas não pode ser vista, medida ou qualificada, apenas sentida. Se a mediunidade faz parte da condição orgânica de qualquer pessoa, que pode exercê-la, assim como ver, ouvir e falar, ou mesmo dela abusar, em função de seu livre-arbítrio. Se o dom de se comunicar com os espíritos fosse dado apenas aos mais dignos, quem ousaria pretendê-lo? E onde estaria o limite da dignidade e da indignidade?
O dom de conversar com os espíritos abraça diferentes vias comunicantes, como entendendo os sinais que enviam, os recados transmitidos através de receptores amigos, os sonhos, e quando invadem meus pensamentos para tirar dúvidas que vinham me assaltando ou abordar questões que não tinham me ocorrido antes e que necessitavam de minha intervenção. Sem que eu dirija a palavra a Eles, a não ser agradecendo fervorosamente tudo o que obraram para abrir meu caminho.
O dom da mediunidade é extensivo a todas as camadas da sociedade, tanto ao pobre quanto ao rico, tanto aos sábios, para fortalecê-los no bem, quanto aos pervertidos de caráter, para corrigi-los em sua deformação moral. O não aproveitamento do dom de conversar com os espíritos implica na perda dessa faculdade e de não poder se desculpar por sua ignorância, concomitante a facilitar o acesso aos maus espíritos obsediá-los e enganá-los, além das aflições comuns que atingem os corações endurecidos pelo orgulho e egoísmo.
A mediunidade não implica necessariamente em relações habituais com os Espíritos superiores. Trata-se simplesmente de uma aptidão para servir de instrumento útil aos Espíritos em geral, deles recebendo assistência e segurança por cultuar a excelência das qualidades morais, pelas quais devemos zelar. Embora não haja um único médium no mundo que possa garantir a obtenção de uma manifestação espírita e num determinado instante. Não se pode dispor de algo que não se possui. A mediunidade não é produto das concepções dos médiuns, nem de suas pesquisas, nem de seus trabalhos pessoais, nem se assemelha aos que leem a sorte e nem mesmo é uma profissão para se colocar à venda. Não é nem uma arte, nem um talento, mas cabe desenvolvê-la pelo estudo e pelo trabalho quando se dedica à missão diária e religiosamente. Se os Espíritos sentirem algo de interesse egoísta ou inescrupuloso, imediatamente se afastam dos médiuns, que devem ser norteados pela humildade, abnegação e o mais absoluto desinteresse moral e material.
É como se nos puséssemos a ouvir a voz de Deus, que fala através de nosso coração. Ela tem uma lógica própria e um poder de persuasão incomparável, nada a bloqueando ou silenciando. Por vezes, investe contra a nossa vontade, não se deixando enganar pelas nossas justificativas falsas, salientando o nosso erro. Se, ao contrário, incentiva a nós irmos em frente. Se soubermos escutá-la com atenção redobrada, a voz de Deus será a bússola que norteará todas as nossas ações. Se vivermos em sintonia com o amor, a voz ecoará cada vez mais forte a indicar um caminho diferente.