Impossível definir o escrotinho de modo politicamente correto. O perfil do escrotinho passou a ser reconhecido como um sujeito de estatura baixa, gordinho e vestimenta que, decerto, nenhuma lhe cairia bem, de tão irregular o seu corpo. Suando em bicas, aflito com seu destino, higiene não era o seu forte. Não se fazia de rogado se o anfitrião lhe servia bebida: ia em todas.
Desde cedo, tenta atrair as atenções de seus pais para si, por antever que o futuro não será promissor. Logo que ganha alguns centímetros, já passa seus coleguinhas para trás de maneira a tirar vantagem como compensação do que virá a perder. Aproxima-se das garotas com muito receio de abordar, já sabendo de antemão que a rejeição o irá abraçar – não por ser feio, e sim escrotinho. Adquirindo cacife na maioridade para ganhar aquelas que necessitam de apoio para se sustentarem na vida – não se trata de dinheiro, pois o bolso do escrotinho é furado, o cheque sem fundo e o dinheiro nasce em árvore plantada e regada por seus amigos e irmãos para servi-lo, tocados pela compaixão, por sua lábia e capacidade de se reinventar.
Justifica-se porque nasceu assim: para vender sua alma, ao se julgar sem talento na arte de se sustentar. Contudo, adora primar pelo discurso baseado na ética, principalmente na política. Mas basta aparecer uma boa chance para ferir a ética e não deixá-la escapar, trajado de legalidade e invocando interesses maiores.
O que assusta é quando se indigna com a corja no meio político que se desencaminha para a corrupção, tornando-se carrasco se a um bom preço, caçando corruptos onde der e vier. Na inútil esperança de voltar a um tempo em que valia mais do que os que hoje não mais são discriminados graças a políticas de inclusão que realçaram sua potencialidade.
Sabedor de que a falta de ética é tão difícil de atestar quanto a falta de caráter que a precede, porque trama e organiza para os devidos fins. É desonesto consigo e com os outros, amiúde e generalizadamente, servindo a interesses ocultos ou mesmo por princípio. Do tanto que mente, alega que não é crime deixar-se levar pela privação dos sentidos para ignorar sua consciência. Mas o que espanta é se indignar quando chamado de pusilânime, exasperando-se com quem duvide de sua palavra ou o remeta a qualquer detalhe obscuro de seu passado.
Gosta de posar de vestal para se iludir com uma sensação de pureza lavando sua alma de mau-caráter.
Adora afirmar que ética é uma só, em coro com os filósofos, colunistas políticos, cidadãos e eleitores, enquanto o escrotinho acaricia a sua peculiar noção de ética, como um bichinho de estimação.
A mais torpe das hipocrisias do escrotinho é enfatizar a educação como panaceia para diminuir a falta de ética, dignidade e honra, já que não corrige a falta de caráter e reforça a discriminação por pessoas que chama de malnascidas e que não tiveram o seu berço. Vá convencê-lo do contrário! Se julga sério e honrado e não professa o menor interesse em aplacar a injusta distribuição de renda nem combater a miséria. Pois, no final, o que prevalece é ter mais dinheiro para elevar seu decaído status e pôr as mãos na pior das corrupções: a dos valores morais. Para ascender a qualquer degrau que seja na escalada da vida ou mesmo viver de esmola de algum parente ou amigo abonado. E continuar a esmagar o populacho.
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