Cada vez mais o espiritismo, que já está fazendo vir ao mundo crianças mais espertas e inteligentes para acelerar o nosso nível de percepção, se utiliza do cinema, a arte maior, para direcionar cineastas e produtores de obras a deixar recados ou investir em temas, sob a aparência de ficção científica, de modo a nos despertar para uma visão diferente do que só conseguimos enquadrar em nossa mente. Sem que os artistas e críticos se deem conta dessa fenomenologia ou, no máximo, uma leve ideia, se a ingratidão predomina no cenário. “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”, dirigido pelo cineastas Daniel Kwan e Daniel Scheinert, filme que reúne mais indicações ao Oscar e já premiado pela associação de críticos americanos é toscamente comparado a uma montanha-russa acelerada de gêneros e linguagens ou descrito como uma trama que mescla ação, artes marciais, comédia e ficção científica. Quando consiste numa operação de resgate para tirar a excelente atriz Michelle Yeoh do papel de uma posição equivocada na atual encarnação, sempre mal-humorada e a refletir o desprazer. “Onde estamos?”, disse uma pedra para outra, de tamanho expressivo. “Num dos universos onde não se pode construir uma existência. A maioria dos universos é assim mesmo. Somos apenas uma pedra. Passamos o tempo achando que a Terra era o centro do Universo, como fomos estúpidos! Nós torturamos e matamos quem se arvorou a dizer o contrário. Até descobrirmos que a Terra gira em torno do Sol dentre milhões de outros sóis. Estou desse jeito (como pedra) há tanto tempo e não percebi. Achei que deveria ter uma saída, como morrer de verdade, de uma vez por todas, enfim, desaparecer (inclusive como espírito.)” O filme aborda um processo de redescoberta, transitando por diversas existências (recentes) dos personagens, para identificar que vivemos a colecionar atitudes minúsculas, se nos ativermos a nos manter na jaula do cotidiano, e não voar em outras dimensões. No âmago do gozo do trânsito de uma vida para outra, é que aprendemos a dar valor ao que é pequeno, seja de que caráter for, quando, aí então, os iguais se reconhecem e a encarnação presente é possível de ser vivida sem amargor, cabendo tratar os outros com gentileza e bondade, apesar da maldade que campeia na Terra. Steven Spielberg é o rei Midas do cinema, tudo o que realiza cai no gosto do público: “Encurralado”, “Tubarão”, “Contatos Imediatos de Terceiro Grau”, “E.T.”, “Os Caçadores da Arca Perdida”, “Indiana Jones”, “A lista de Schindler”, “O resgate do soldado Ryan”, “Jurassic Park”, “Lincoln” e agora o extraordinário “Os Fabelmans”. Trata-se da separação de sua mãe, que foi viver nos anos 1960 com um amigo que residia na casa da família, e que trabalhava com seu pai, pioneiro da computação. Tendo Spielberg como testemunha ocular da história e dando seus primeiros passos como cineasta, flagrando o affaire com sua câmera. Só realizou o filme quando seus progenitores recentemente morreram, talvez em razão de nunca ter morrido o amor do pai, Arnold Spielberg, pela mãe, Leah Adler, jamais dirigindo a ela palavras de amargor e ressentimento, naturais àquela época por se tratar de uma traição. Ele dizia ter uma vida (uma encarnação) construída com ela e seus quatro filhos e que isso não poderia ser negado (cancelado). Um verdadeiro ser com gentileza e bondade, apesar da maldade que campeia na Terra, tal como o filme “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” apregoa em 2023.
Deixe um comentário