CARNAVAL 2023
No Rio de Janeiro, os blocos de Carnaval Bloco de Segunda, Suvaco do Cristo e Escravos da Mauá anunciaram sua despedida, depois de mais de quatro décadas com críticas sociais rasgadas com humor e irreverência, iniciadas em cortejos pequenos como forma de protesto à abertura vagarosa e sonolenta da ditadura militar.
Eram tempos de retorno às ruas, ocupadas por foliões ávidos por cantar em alto e bom som o que não se podia escarrar na cara dos militares, embora não se soubesse como iriam reagir, se com cara de paisagem ou se valeriam de uma garrucha para matar o Carnaval.
Tudo tem sua hora para terminar, o modelo de um samba só não satisfaz a juventude, que quer vir quente pois estão fervendo, em torno de marchinhas de sua preferência. Foi o veredicto dessa gente esclarecida e inteligente que permeia nos blocos, experimentada em separações conjugais, quando não mudando de opção sexual. O que a unia eram afinidades não necessariamente correlacionadas ao samba, à política ou à turma da pelada, e sim o afeto que se encerra em seu peito juvenil para se expressar e se divertir – quando não encontravam o grande amor de suas vidas.
O tempo passa, já dizia o locutor esportivo Fiori Gigliotti. A atualmente representar o fim de décadas de glórias e histórias de Carnaval. Antes que os valorosos fundadores se transformassem em velha guarda, indispostos com os megablocos que arrastam até um milhão de pessoas, além de defecções impostas pela idade ou mesmo pelo desaparecimento de figuras históricas, como Eduardo Gallotti, o responsável pelo nascimento de algumas das principais rodas de samba no Rio de Janeiro, como a do Sobrenatural, do Severina, do bar Emporium e do Trapiche Gamboa.
Mas o que acabou de fato com o rebolado e a graça desse nicho empedernido da crítica política foram os 58 milhões de votos que o presidente psicopata recebeu, embora derrotado. A “luta continua” foi seriamente ferida em seu ponto outrora mais forte no Carnaval: “faça humor, mas não faça guerra”. O gado do Bolsonaro teria de ser o alvo de sua ironia e sarcasmo, sem dó nem piedade. Contudo, o gado é desprovido da inteligência comum, poderia virar uma guerra, o que não é o objeto do Carnaval. Mais prudente bater em retirada e deixar para as gerações carnavalescas seguintes a continuação da odisseia, mesmo porque um dia as máscaras cairão, os bolsonaristas se verão em completo ridículo e o Carnaval haverá de sepultá-los.