Quando o homem, dentre tantas, gosta do jeito que ela é, ele quer aquela mulher só para si. De qualquer maneira. Não sossega enquanto não a conquistar. Não larga do seu pé. Corteja a mãe e mesmo o sogro, se sentir que ela não está devidamente amarrada nele. Procura lhe transmitir segurança e dar garantias de que está fechado com ela. Nem pensar na mulher ao lado, no rastro inebriante do perfume da vizinha ou na prima que sempre deu mole.
Não foi muito barulho por nada. Depois que se casam, com essas instituições que procuram estabelecer convertendo-as em objetos de sua intimidade, exigem de imediato que elas deixem de ser como as conheceram. Que abandonem o navio! Recolham-se ao abrigo de uma relação que as porá em outra dimensão. Uma nova vida, despida dos remelexos que os atraíram, se tamanho malabarismo perturbar sua autoconfiança e equilíbrio.
Por mais que eles as amem, elas não podem afrontá-los.
Urge mudarem para o que concebem ver personificado em suas mulheres, o modelo que vem desde suas mães, independente das voltas que o mundo deu e do modernismo que lavou a égua do afeto encerrado no seu peito. Não é possível o amor se transformar de tal maneira e tornar-se desconhecido, necessitando ser apresentado ao distinto público.
É quando o homem não tem o menor pudor em julgar o que as faz se sentirem felizes, pois são tão perdidas que não custa dar uma mãozinha. Ajudá-las a escolher o melhor para si. Verificar o que há por ser feito.
No entanto, egoístas que são, os homens ganhariam muito mais se as preservassem e estimulassem a se manterem fiéis às suas características, conforme as conheceram. Tirariam maior proveito da situação e, o que é melhor, a atração física sempre estaria em alta e o risco mínimo de se investir em outra.
Mas não, preferem o modelão tradicional – por não estarem preparados e retardarem o encontro com aquilo que poderia torná-los preenchidos e aptos a serem saboreados. Sacrificando a mulher, que abriu mão de ser feliz e optou por se integrar numa relação careta, até para não ser culpada de desagregadora, e posteriormente abandonando-a, a ela que sinalizara ser o seu caminho de luz – prejuízos irreparáveis nas duas personalidades.
Discriminando-a, ele afastou-se do que iria lhe proporcionar fartura, boa esperança e a manutenção do espírito de criança que nos habita. Mesmo que a harmonia se configurasse numa utopia.
O resultado não podia ser outro e estava escrito: só separados poderiam ser felizes.
Tristeza, por favor vá embora! Minha alma que chora está vendo o meu fim. Já é demais o meu penar. Quero voltar àquela vida de alegria, quero de novo cantar.
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