X

O HOMEM DIANTE DA MULHER PERDIDAMENTE APAIXONADA POR ELE

Quando o homem vai se deixando ser amado e desejado por uma mulher perdidamente apaixonada por ele, mas não corresponde no mesmo nível, é sinal de acomodação baseada na garantia de que não será largado à deriva. Por não haver necessidade de lutar por esse amor, ela já estar no bolso e ele não correr o menor risco, o homem acaba se tornando passivo do amor extremado dessa mulher. Fica neutralizado, sem se encontrar à vontade para procurar amor legítimo em outra mulher, pois ela não desiste de marcar posição.
Resume-se, então, a explorar o ímpeto de mulheres que querem provar o quanto são capazes de amar aquele a quem escolheram e mostrar até onde vão puramente movidas pela paixão. Se o amor não vem no mesmo diapasão, elas compensam com espírito de sacrifício e destemor estoico que lhes põem nas alturas, como autênticas guerreiras em campanha para conquistar, mesmo que levem anos e atravessem uma encarnação inteira. Pois as leva a gozar de uma sensação inaudita, de que já ouviu falar, mas que nunca saboreou, sequer pretendendo abrir mão ou se valer do exemplo de amigas mais calejadas. Em vista de o sentimento único ser singular, inebriante, arrebatador, intransferível.
O protótipo da teimosia típica da taurina, que transcende todos os seres e coisas, e avança no inconsciente do homem para tentar roubar-lhe os segredos inconfessáveis que o impedem de ser feliz em seus braços. De posse da sublimação, o homem abusa, não porque seja mau, cafajeste, aproveitador, mal-intencionado ou contumaz mentiroso, e sim porque ele está doente. Sofre de um passado que o condicionou e não consegue se libertar das amarras, sequer tendo consciência dos males que adulteram sua essência e verdade, transformando-o num produto em decomposição.
Quando amar é alternar em ser ativo e passivo numa relação e se fazer presente no beijo na boca ao alvorecer, assim que despertar. De ativo e passivo, nem mesmo com mulher – ele quer distância. Isso representa perigo, a perda no controle dos instrumentos, a ser remetido a um lugar de onde não tem volta, de ver fugir de suas mãos o encanto da manipulação. Ele teria que começar de novo, reaprender como se fora um bebê e jogar fora seus códigos. Como corrigir seu rumo, se à sua volta só proliferam sintomas gritantes de desequilíbrio emocional? Em quem confiar? Ele não deseja se transformar em vítima do destino. Se assim for, prefere continuar revestido da mesma armadura, coberto por um longo manto que lhe dá uma aparência de pavão misterioso, montado num garboso cavalo, a atacar para se defender e evitar que sua cidadela caia diante de um inimigo disperso e sem senso de direção que não o do Amor, puro e simplesmente.

Antonio Carlos Gaio:
Related Post

Este site usa cookies.