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O HOMEM ESPIRITUAL

O ser humano gira sobre dois polos: a dor e o amor. Se o amor é vivenciado com muita dor por “n” motivos, confere à alma maior clarividência sobre a sua extensão e alcance, mostrando do quanto é capaz, se frustrado. Transforma as sensações ordinárias em dolorosas e atinge o homem no que ele tem de mais místico no amor, malbaratando suas intuições. Estado de desgraça esse que não tem um nome adequado nos vocabulários humanos. Por ser inclassificável e essencialmente anônimo, embora se atribuam tantas expressões. Mas nenhuma delas o define, se a desgraça no amor, em suas infinitas variantes, é inominável, ainda mais se a perversidade exacerbar o requinte de maldade do autor.

Contudo, Deus é o rei dos anônimos, e é por isso que os homens tentam Lhe atribuir tantos nomes, ao ser muito invocado quando a desgraça fere o amor de morte. O homem imerso na atmosfera do pouco preciso e silencioso deserto da Divindade, a intangível e luminosa escuridão, o vácuo da plenitude, imagens que nada dizem.

Pior é quando tentam definir espírito, se preferimos ficar com Jesus Cristo: “O que nasce da carne é carne – o que nasce do espírito é espírito”. Nascer, renascer, encurtam o caminho para se chegar no homem espiritual. Que emigrou de si mesmo, imigrando para dentro de Deus, segundo o teólogo e filósofo Huberto Rohden.

Desaparece então o aspecto externo do homem, quando sua alma se refletia no semblante, nos gestos, no olhar, no timbre da voz, em toda a sua atitude, e agora adquire algo de vago, de longínquo, não mais obcecado ou mesmo irritado, aparentemente distante e sem interesse. Não mais odeia criatura alguma, nem tampouco se enamora. Uma benevolência serena e neutra vai se instalando ao se afastar do lufa-lufa cotidiano, à medida que se adapte às condições do meio e alarga seu processo de conscientização.

Assim é o homem espiritual, quando ingressa na atmosfera da anônima e inominável Divindade e começa a se distanciar da desgraça do amor possessivo, doentio, ciumento, propenso a traições, retaliações e abandonos. Descobrindo um outro gênero de Amor.

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Antonio Carlos Gaio
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