O jornal O Globo aproveitou para fazer o mea-culpa no lançamento de todas as suas edições digitalizadas desde 1925. Um farto material para se analisar a influência e a participação nos fatos que mudaram a História do Brasil. Sob pressão das manifestações que gritam “A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura” enquanto jogam merda em sua sede, em São Paulo. Finalmente confessaram que o apoio (editorial, esclarecem) ao golpe de 64 foi um erro. Mas dividem a culpa com coirmãos (“O Estado de S. Paulo”, “Folha de S. Paulo” e outros que já fecharam) e elencam um rosário de desculpas as quais se fôssemos levar em consideração, poder-se-ia perfeitamente estabelecer uma comparação com Pilatos lavando as mãos. Para justificar a intervenção e contragolpe dos militares, o temor de um golpe de Jango Goulart com amplo apoio dos sindicatos, a divisão ideológica na Guerra Fria entre comunistas e capitalistas, o absurdo do vice Jango assumir na renúncia do presidente Jânio Quadros e ressuscitar Getúlio Vargas na defesa do trabalhador – o jornal conspirou junto com a UDN para desestabilizar e derrubar Getúlio, tendo, indiretamente, o levado ao suicídio. A hierarquia começou a ser quebrada e o oficialato teve que reagir. Uma intervenção cirúrgica e o poder logo voltaria aos civis. Foi a única alternativa que restou para fazer ressurgir a democracia depurada de esquerdistas e da irrupção da guerrilha urbana no Brasil. Contudo, as Organizações Globo não põem o dedo na ferida: a onda de perseguição, tortura, extermínio e censura dos opositores ao regime que se estabeleceu no poder por 21 anos até Tancredo Neves ser eleito pelo voto indireto – o jornal escondeu o mais que pôde as manifestações em favor das Diretas Já (pelo voto direto). O escândalo pior foi o caso Proconsult no qual O Globo optou por um esquema próprio de apuração da eleição para governador do Rio de Janeiro, fraudando a vitória de Brizola, enquanto o Ibope apontava sua vitória – Roberto Marinho era inimigo figadal de Brizola, considerado uma continuidade de João Goulart e Getúlio Vargas, igualmente desafetos. Na lista dos dez mais ricos do Brasil, os barões da imprensa põem a culpa no tal do contexto histórico, necessário na análise do posicionamento de pessoas e instituições no passado, garantindo que irão aprender e enriquecer ao reconhecerem os erros cometidos. Enriquecer é certo, mas aprender, só se as redes sociais e a tecnologia derem uma guinada na liberdade de expressão, vazando tudo que a privacidade dessas raposas tenta esconder.
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