Quando acredito no falso eu
que o mundo concebeu
no imaginário popular,
que não sou eu,
piso em falso,
calço os sapatos
que não me servem
e ainda machucam.
Não sou o que mostro
nem esse monstro
que pintaram.
A partir deste ponto
da minha trajetória
em que aprendi
a me escutar
sem deixar as vozes
dos outros e da dor
conseguirem me calar,
e bloquearem
minha audição interna,
ando com as pernas
da minha intuição.
Com os pés do coração.
E vou descalça,
me desfazendo de acessórios e roupas.
A sola do pé é casca grossa
quando muito usada.
Proteção natural e automática do corpo.
Se esta simples matéria
que perece e um dia morre
é forte e inteligente a este ponto,
como meu espírito poderia ser tão tonto
e continuar a temer?
Ter medo pra quê?
Meu medo não é nem morrer.
É estar na vida e não viver.