Uma menina recém-nascida de madrugada morreu quando a incubadora em que estava pegou fogo numa maternidade de Belford Roxo. Somente ela dentre outras oito crianças no berçário. A mãe havia dado entrada para o parto à noite. Com que propósito nascer para logo morrer? Encarnar para desencarnar em seguida? Como explicar esse mistério de viver por apenas um par de horas? Que carma cruel justifica carbonizar um nenezinho? Como nada existe por acaso, é gravíssimo o senso moral da sentença decretada. Contra quem? Lembra um castigo final para quem resiste e mantém-se enganando a si e aos outros. Para não ter que mudar. Só isso para tamanho castigo? Somente com um curto-circuito você será obrigado a sair de seu lugarzinho, que está a prejudicar quem almeja por um espaço para crescer e evoluir. Se você está indo contra a ordem natural das coisas, não tem o direito de sacrificar o bem-estar de todos. Ainda assim, não nos sai da cabeça o bebê calcinado. Um mistério que, não sendo possível decifrar, ao menos impõe mais humildade e respeito a uma ordem maior de forma a nos adequarmos ao nosso tamanho e ao que aqui representamos. Para nos despertar quanto à dimensão de nosso papel.
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