A tradicional interpretação masculina sobre o erotismo corre o risco de não mais estar no comando. Em oposição, as mulheres defendendo um modo diferente de serem vistas, negando a hegemonia do corpo ideal para aflorar que mulheres de todas as formas, tamanhos e idades são sexy. Embora os meios de comunicação tenham medo da mudança, achando precoce detonar a pornografia como uma indústria moribunda, de narrativa opressiva e com estética desalentadora e decadente, suspeitando do lobismo gay ou lésbico para abrir o mercado e oferecer mais e iguais oportunidades ao variar o gosto do público consumidor.
O grosso da pornografia produzida no mundo é a retórica desse olhar masculino que reflete o controle e poder que gosta de cultivar sobre as mulheres. Em flagrante dissintonia com a realidade atual, na qual a mulher também dá as cartas, e transitando para a esquizofrenia quando só faz valer e impor sua ideologia primata nos usos e costumes sexuais. A pornografia ainda é dominada pelo olhar embasbacado com o qual o homem admira e se extasia com o corpo da mulher.
A mente é a zona erógena mais poderosa na qual a pornografia feminista quer inverter essa lógica e não deixar traços de dominação e hierarquia, que às vezes descamba até para a violência.
O corpo nu ainda é um tabu global, e naturalizá-lo é fundamental para discutir a sexualidade. Vivemos numa sociedade ainda muito reprimida em relação ao próprio corpo, o que dirá em relação ao corpo do outro.
Posar nua pode ser uma forma de descoberta pessoal, autoafirmação e empoderamento, desde que parta do desejo da mulher, sem a orientação restrita de agradar a um padrão masculino, ou a qualquer tipo de ordem estética, moral ou social.
Infelizmente o preconceito tenta macular tudo que carrega o sobrenome feminista, sofrendo uma estigmatização equivocada e, não sendo muito compreendido, tem o seu alcance limitado. O pornô geralmente é criado por homens, mostra o sexo idealizado por eles e a mulher como um acessório caricato e obediente.
Este modelo tradicional reflete uma situação que precisa ser modificada em nossa cultura, não só na pornografia como campo de batalha entre os sexos. O corpo feminino ainda é muito associado à passividade e, por isso, sujeito a uma misoginia violenta, que acaba por reforçar a cultura do estupro.
Há que se criar uma nova expressão sexual que atenda à crescente e atual diversidade de gênero, sem ofender ninguém e nos ajudar a compreender nossa sexualidade. Por ora, basta principiar a corresponder às diversas matizes que surgem aos borbotões e invadem os nossos domínios eróticos a corroborar a necessidade da quebra da hegemonia do sexo masculino, que empareda sua própria felicidade e embarreira a evolução da espécie humana.