Quem não conhece pessoas que sentem prazer em ser o palhaço da corte? O palhaço no meio em que vivem, como aquela dileta irmã sem espaço para transitar dentre irmãos machistas que reproduzem o modelo patriarcal ao lado de sua mãe mingau. Somente sendo palhaço para chamar a atenção sobre si mesma, tornando-se o centro das atenções da família, a irmãzinha e filhinha querida.
O palhaço da corte, o elo da família por onde todos percorrem e circulam, acorrentados a uma cadeia de fatos que orienta, persegue e norteia a família no escoteiro um por todos, todos por um. A palhaça da corte, a bandeirante que não se cansa de suar a camisa em favor dos outros como uma amélia que canta Elton Medeiros e Mauro Duarte, “uns com tanto, outros tantos com algum, mas a maioria sem nenhum”.
A querer ser popular, engraçada, aquela que todo mundo deseja ser amigo, hipercomunicativa, as festas não borbulham de ilusão sem o ar de sua graça. Ri à toa, excelente anfitriã, de inata capacidade de liderança e bom trânsito com o sexo oposto.
Os palhaços da corte boicotam seus relacionamentos por exigirem do ente amado se encaixar no palco do palhaço, a exemplo dos segundos fora que assistem ao boxeador no ringue, amoldando-se ao seu estilo de ídolo de pés de barro festejado, acostumados que estão a mitificar para adorar seres sem substância onde a carne e osso são pura balela.
Todos o convidam para as comemorações natalinas, famílias o querem adotar, o guia turístico dos sonhos para escolher restaurantes, fins de semana, programas e promover aproximações.
O palhaço da corte, de tanto treinar, acaba virando o bobo da corte. Não o verdadeiro, que fazia troça do rei e o ignorante nem desconfiava, sim o falso, de quem todos têm pena com muxoxos de que esse não tem jeito, cujo destino é terminar seus dias sozinho, apesar do sucesso de público. É que o filão se exaure, esgota o atrativo pelo qual tanto se esgoelam, o palhaço se consome em meio ao descarte do tempo, apenas as crianças o preservam, enquanto não forem adultas.
O palhaço da corte descrê de tudo, por isso leva tudo na brincadeira, quem seria capaz de acreditar numa relação de amor nascida da vergonha que um sente pelo outro? Quando o pré-requisito é sentir admiração.
Interesses se misturam e podem dar samba. Seja útil ou vantajoso, social ou material, desde que levante sua auto-estima. Se ela anseia mover-se do pântano em que se encontra ou de águas rasas que não a aproximam do horizonte, e se a danadinha é inteligente, determinada em seus propósitos, por que não merecer uma chance? Se ele sabe que é um bolha, que ninguém vai se interessar pela sua essência, que no máximo vai pagar placê, por que não merecer uma chance? Num instante de tamanha insegurança como esse, é importante que ela agarre suas mãos e acaricie-as, ele erga a taça e brinde à sua beleza, ambos se aproximem para eliminar barreiras, aparar arestas e vencer preconceitos.
É o patamar de amor mais difícil de ser galgado e alcançado, que torna sublime sua acepção e sagrada a concepção no fruir de um futuro, sem espaço para egoístas contumazes, vampiros, misóginos, vacilões e palhaços da corte.