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O PAU-MANDADO

O pau-mandado se refugia para não ter que viver a vida de um homem. Verdadeiro. Aquele que não baixa os olhos. Sem medo de encarar o seu contrário. No entanto, o pau-mandado o considera como seu inimigo em potencial. Porque ele pode vir a revelar todas as suas fraquezas. Tudo aquilo de que não é capaz. Afinal, tudo se encontra lá. Escrito e escarrado na sua cara. Na cara do pau-mandado. Por sinal, com seu inteiro conhecimento. Desde criança. Alimentou-o uma mania de perseguição.
A um homem fraco, uma coisa puxa a outra. Que recua quando a discussão aperta. Sai de fininho no calor da disputa. Ter convicção não é o seu forte. Com quantos paus irá fazer sua canoa, se não consegue defender seus pontos de vista com firmeza? Bate em retirada logo que o tom engrossa e se torna áspero.
O pau-mandado tem que formar família para se fortalecer perante os filhos. Ao ser respeitado. O pai amigo e pau para toda obra. Filho nenhum virá contestá-lo, tamanha sua presença na educação, na formação e nas tradições. Para que ninguém herde seu legado de pau-mandado e ponha um fim nessa maldição.
O pau-mandado é fiel à sua mulher. Pois se ele não levanta os olhos para observar o que está acontecendo. Se o faz, não acusa: é sonso. Como só se amarra a mulher que quer segurança no casamento, ela jamais irá cobrar dele grandes saltos, maiores rompantes, enfrentar desafios, um amor arrebatador se, em troca, sua previsibilidade é garantia de que não irá pular a cerca.
O pau-mandado ri e faz piada com a desgraça. A maioria sem graça. Quando não te puxa pelo braço e conta um causo para dar o ar de sua graça. Contudo, devido à gravidade de sua situação, mantém-se na superfície, com medo de afundar. Gostaria de furar o cerco em que se deixou ficar. Faria um pacto com o diabo em troca de uma mulher bonita. A tradição em sua família é de avó e mãe bruacas, autoritárias e de mau humor. Não se importaria de arrumar uma que mandasse nele, mas que fingisse. Fingisse tão bem que daria a impressão de que ele é quem manda. Porém, sob o disfarce de bom-moço, o boa-praça, de modo a dissimular o desconforto em vestir a camisa de pau-mandado. Camisa que atrai urubus e a má sina. Camisa em que se cria o destino inglório do pau-mandado.
De não poder se reafirmar. Fazer valer que personalidade, pode-se saber? Se só lhe apetece falar se aproximando do ouvido do interlocutor, para que ninguém ouça que conspira. Como se metesse medo! Pois se não tem energia para virar a mesa!  Se sua mente é um grande alvoroço e não distingue se caçoam dele. Se intencionam inquietá-lo com o pau mandado. O que não sobe ladeira e desce num faiscar de olhos. O coração mole. O vigor que inexiste. Falta-lhe vibração. Jamais conseguirá virar pelo avesso a quem ama. A frustração, sua companheira inseparável.
O pau-mandado sempre irá ser perseguido por não possuir um porte à altura.

Antonio Carlos Gaio:
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