Os pilotos se cansaram de mandar os passageiros apertarem os cintos, eles não obedecem, bebem, e devolvem com juros e correção monetária a refinada educação que receberam e deixaram em casa. Tolerância zero à fúria dos que agridem comissários e pilotos durante vôos, especialmente os do circuito Helena Rubinstein. Exigem punição para os passageiros – sem discriminar a 1ª classe – possuídos pela ira assassina provocada pela síndrome do pânico. Se já existe cela nos estádios para os hooligans, por que não nos aviões?
O ministro Serra advoga o fim da reeleição por não ter funcionado bem, “oito anos termina sendo um período excessivo, e o segundo mandato passa a ser encarado como período final, mais curto do que na verdade é”. Não admite a insinuação de casuísmo porque ele pensa a médio e longo prazo e não olha a curto prazo, inspirado em Keynes, o maior economista desse século em sua opinião: “quando os dados da realidade mudam, eu mudo a minha opinião”.
Os cursos superiores de economia giram em torno do que é o macro, as questões maiores que desarranjam o estômago do país, e do micro, é você desenhado sob a forma de curva reagindo diante de receitas indigestas. Já houve um delfim que afirmou, em anos de chumbo, que primeiro é preciso deixar crescer o bolo para depois distribuí-lo. O chumbo derreteu e o arco da sociedade distendeu-se até alcançar a democracia collorida, dando zebra com a zélia ao confiscar nossas parcas economias de Terceiro Mundo em que o povo era um mero detalhe. E todos os ex-ministros viraram consultores, donos de bancos e corretoras, ricos e felizes, a gozar as delícias da comida japonesa, enquanto coçam a cabeça para decidir em quem votar para prefeito de São Paulo: Maluf, Collor, Tuma ou Enéias.
Serra também não admite a insinuação de oportunismo para reeleger FHC por se rotular voluntarista. Não confunda com voluntarioso, aquele que embirra com detalhes e somenos. Trata-se de somais, uma doutrina em que a vontade supera a razão divina ou humana, seja no plano psicológico ou nos domínios da ética. O ministro joga fora o presidente que apoiou na reeleição, evidenciando o mundo descartável em que estamos atolados. Quando Andy Warhol previu o descarte na sociedade nos anos 60 irritou tanto que tentaram assassiná-lo por pensarem que era ele quem iria assassinar a ética.
Oh, my dear Andy, quão injusto esse mundo de vista cansada com imagens vomitadas que nos golpeiam impiedosamente, como as modelos que pegam carona nos jogadores de futebol e transmutam para a bola da vez, tênis: Vanessa Schultz, ex-namorada de Guga, vira capa da Playboy. O Garotinho queima na largada para a corrida presidencial e agora pede que controlem a língua ferina de Brizola: a raposa e fênix já o alcunhou de Mussolini e Brutus. Um grupo de 37 países se compromete a doar mais US$ 320 milhões para que a Ucrânia faça o sarcófago de concreto que envolve o reator da usina de Tchernóbil, a maior catástrofe nuclear da História.
Viver assim é terrivelmente tedioso, segundo os eleitores pesquisados pelos institutos de opinião pública. Maus bofes de quem deseja que os governantes façam algo para que voltem a acreditar em mudança. Senão, caem no marasmo da indiferença social, no individualismo e no barato do tchan, atrás das grades que cercam metade dos imóveis existentes no Rio de Janeiro.
Quando Walt Disney congelou, ou melhor, embalsamou seu corpo para a eternidade, pensava-se ser uma loucura megalomaníaca de mais um tresloucado americano inconformado com o desaparecimento de mais um espírito libertário e empreendedor da América. Ninguém poderia imaginar que o gênio que criou “Branca de Neve”, “Cinderela” e “Bambi” iria sobreviver encarnado numa fábrica de filmes que viria a produzir pérolas como “O Rei Leão” e “Dinossauro”, ícones na luta para a preservação da espécie, que une filhotes e desdentados, macacos e dinossauros, sem-isso-e-aquilo e deformados, na luta contra os predadores que se procriam na velocidade da mídia sob a forma de estevãos, hildebrandos, lalaus, georginas e outros, presentes no inconsciente coletivo à espera de julgamento quando todos forem enterrados na primeira curva do rio.