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O QUE HÁ POR TRÁS DO HOMEM QUE DISPUTA A GUARDA DE FILHOS

O problema do homem que, separado, sofre restrições quanto à guarda dos filhos ao se impor com agressividade, quando não usa de violência contra a ex-mulher para fazer prevalecer sua educação e seus métodos. Com essa reação embutindo uma não aceitação de ela estar saindo com outros homens. Quando antigamente a mulher não se casava de novo ou nem tinha iniciativa para tanto, com o homem encontrando no lar desfeito o acesso aos filhos à hora que bem lhe convinha, sem necessitar de se preocupar com a guarda pois a mãe de seus filhos já se ocupava com as obrigações e deveres inerentes à tutela.
Que extenso vocabulário com que o homem procura expressar seu amor! Dominação, poder, controle, cobrança, quando dependência não é amor. Gerar e exercer a paternidade são coisas bem diferentes. O discurso de quem acha que bandido bom é bandido morto sem notar que apoiar a justiça com as próprias mãos é tão criminoso quanto dominar o objeto de seu amor com requinte de crueldade, explorando a fragilidade da personalidade da vítima. Apesar de comum a vingança nos desarranjos do amor, quem ama não quer o mal do outro, nem muito menos saber de agredi-la ou violentá-la, por justamente querer ter a amada por perto, e não a mandar embora. Porém, quando mulheres são assassinadas de forma premeditada, o homem sempre tenta colocar a culpa na vítima: “Ela me acusou de agressão”; “Ela não me deixou conviver com o filho”; “Ela não foi boa para mim”.
Enquanto maridos obrigam suas esposas a terem relações sexuais sem vontade, não se importando quanto a isso ser considerado violência sexual, julgando como obrigação do casamento. Vivemos ainda em uma sociedade machista com o homem prevalecendo na balança de poderes e a mulher com dificuldade para se livrar do pântano da subserviência. Esses atributos são portadores de tamanha carga de abusos que muitas vezes são encarados como fatos corriqueiros de um relacionamento.
O argumento utilizado pelo homem em diversos litígios conjugais de que a mulher somente deseja se apossar do filho, exclusivamente para ela, ofende a inteligência comum por não admitir que ela não quer é deixar que seus filhos tenham contato com o homem que a agrediu no relacionamento.
“A vadia foi ardilosa e inspirou outras vadias a fazer o mesmo com os filhos.” Aqui começa a construção do estereótipo da vadia. A ideia é de que qualquer mulher que não aja da maneira esperada e desejada por um homem será, em algum momento, chamada por vadia. E se desejar outro homem que não ele, será piranha.
Os homens vão ligando, de maneira desconexa e esquizofrênica, tudo o que os incomoda, às mulheres que colocam no mesmo balaio, acreditando-se ungidos pela verdade que carregam. Enquanto todos esses senões não forem discutidos à exaustão, enquanto as escolas não debaterem quais atitudes se encaixam na definição de desrespeito ou violência, enquanto a imprensa continuar apenas dando visibilidade a discursos enlouquecidos sem passar por especialistas para que os traduzam, não iremos muito longe quanto à disputa da guarda dos filhos.

Antonio Carlos Gaio:
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