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O QUE O MAL NOS RESERVA?

O Mal nunca se apresenta desacompanhado. Se perdas e danos surgem inesperadamente, há que procurar o significado, ao invés de se lamuriar e se entregar à tristeza. Por vezes, leva tempo superar o baque que o surpreende. Para identificar as forças malignas que o mantêm manietado a um mecanismo ao qual aprendeu a se acostumar e até a pensar ser o mais apropriado à sua personalidade.
Dia e noite, sol e chuva e dormir e acordar estão aí para provar a alternância a que estrelas, tempo e espíritos encarnados se encontram sujeitos em seu movimento de rotação, em torno de si mesmos, para superar suas limitações. Por isso, é que atrás do Mal, sempre vem o Bem.
Embora poucos acreditem que o infortúnio e a infelicidade vêm para trazer luz aos nossos passos e alargar a porta de acesso à nossa consciência. Por que logo eu fui sorteado para a fatalidade me alcançar como um raio?
Quando o que há por descobrir é o que o Mal nos reserva.
Pena que poucos saibam esperar e precipitem o rumo dos acontecimentos. A ansiedade em livrar do desassossego nos induz a meter os pés pelas mãos e a vencer o adversário de qualquer forma, esquecendo-se que vencedor é o que vence a si mesmo. A suas imperfeições que, se não corrigidas, acumulam-se e lhe tiram o gás para tocar a vida com o ânimo redobrado, cozinhando tudo em fogo baixo.
Apesar de nem sempre depender de nós a condução de nossa tosca e frágil embarcação. O que o Mal nos reserva pode representar a troca do que você procura manter atado no seu íntimo, agarrado a uma tábua como um náufrago, para um estado de espírito em que nem mesmo você se reconhecerá. Por isso, não se sente seguro, não acredita e afasta ideias que mudam o conceito com um safanão. Pensando tratar-se de um embuste ou armadilha do destino.
Se desconfiados nos tornamos, é porque levamos na cabeça e não aprendemos, quando a ideia não era recuar e esconder-se na prudência covarde. A lembrar que o mundo não foi feito para você. A se declarar afrontado pela ingratidão em toda parte por onde anda.
Desembarace-se dos seus enganos antes que a vida o desengane, como o médico a um enfermo. Não alegue que está velho para aprender ou que não tem saúde para amar de novo. O pouco que se faz pode significar o muito do que não é capaz de enxergar.
Embora as perdas sejam temporais ou cíclicas, aguardar o sol encontrar uma nesga nas nuvens cumuladas de tempestades, não é a melhor política. Labore no escuro. Pois ninguém o preservará da perigosa aproximação e influência do Mal, se não souber aproveitar a rara oportunidade de estar encarnado e adquirir melhor compreensão de seu destino para gerar consequências no seu engrandecimento espiritual, sem o qual não lhe valerá o ingresso no aprendizado da condição humana.

Antonio Carlos Gaio:
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