Quando os militares encarregados de interrogar e torturar durante os anos de chumbo são chamados de cavalgaduras, a corporação fica indignada como se a ofensa fosse dirigida a toda a instituição – só se a carapuça servir. Quando isso ficou nítido na ditadura militar ao pressionarem Caetano Veloso a compor uma música exaltando a Transamazônica, no auge da Tropicália! Precisa ser muito estúpido! Isso iria liquidar com sua carreira, como só aconteceu com Wilson Simonal. Não satisfeitos, os gorilas vazavam aqueles que eram seus dedos-duros, obrigando Caetano a se dirigir à latrina mais próxima e dar a descarga. Quando a psiquiatra Nise da Silveira, desde o fim da ditadura de Vargas que a prendeu por 18 meses em 1936, já se manifestava radicalmente contrária às formas agressivas de tratamento como o confinamento em hospitais psiquiátricos, o eletrochoque e a lobotomia, criando ateliês de pintura e modelagem com a intenção de possibilitar aos doentes reatar seus vínculos com a realidade através da expressão simbólica e da criatividade, o que revolucionou a psiquiatria então praticada no país. A ditadura acabou e a anistia serviu de cobertor para encobrir os que fugiram à realidade no desvio de conduta e sequer se trataram, para morrerem na orfandade de seus crimes.
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