Ora, viva! De tanto martelarem cidadania e direitos humanos no quengo de reacionários, evoluímos de uma postura racista de negar a raça negra para aceitarmos que somos um povo miscigenado. Quanta gozação a respeito do socialismo moreno, a mostrar com o dedo indicador roçando na pele mulata o DNA do negro – imagem-ícone da intolerância racial genuinamente nacional. É uma moeda de troca, esses doutos senhores e senhoras descobriram que não existe racismo no Brasil e agora valorizam a mestiçagem, somos antes um mosaico de combinações fantásticas do que um país de cor. Despertados pela desigualdade social quando o Bolsa-Família ganhou as eleições, o oportunismo fala mais alto e abandonaram o sorriso de FHC que ditava cátedra com uma sociologia que adaptou às conveniências do poder. Antes tarde do que ver o país dividido entre negros e brancos, com o orgulho racial sobrepujando gente neutra e anódina.
Pregam uma sociedade em que o governo não se imiscua na identidade e na vida privada das pessoas, no qual as políticas sociais devem atacar as causas da pobreza e dos desníveis sociais em detrimento de uma cidadania definida em função da cor da pele, a ser determinada pelo movimento social, partido político ou burocrata de plantão. A política de cotas. A estatização de raças com perfil estimulador de ideais e reações racistas. A questão racial aprisiona e imobiliza a intrínseca condição humana em que nos encarnamos. Apesar da biologia e da genética mostrarem que não há raças humanas, o conceito perdura para separar e discriminar grupos sociais em função da cor.
Não se pode punir os brancos de hoje pelos escravocratas de outrora, mas daí a dizer que não há preconceito e discriminação racial no Brasil, nem nos Estados Unidos, que venceram o apartheid, afirmaram os direitos universais dos negros pela educação, trabalho e saúde e nem por isso, o ódio gratuito foi ultrapassado – embora o império da lei vergue esses dissimulados que só enxergam sua raça, a raça superior de continuar por cima e o resto a cheirar a sola de seu sapato.
O resgate da dívida social que a humanidade tem para com os negros sob a lei da chibata, do navio negreiro, do pelourinho, baixar a cabeça para não encarar o senhor-de-engenho. Forçaram as negras a ceder suas vaginas para branquelas nojentos vindos da corte se refestelarem no prazer quando e como queriam, adoçando a boca de escravas com um destino melhor, concedendo-lhes um pingo de esperma para terem filhos livres, embora mulatos. E assim construímos uma nação com base no estupro coletivo e o caráter de toma lá, dá cá.
Quem não se importar com resgate e somente se preocupar com sua prole ou clã, é porque não se apercebeu de que ninguém está livre de falir, ou a estrela cair, ou perder o chão e o teto, ou o mundo cair sobre sua cabeça, ou mesmo, de uma vergonhosa distribuição de renda que assola o planeta. Ou de um racismo recalcitrante dissimulado que só perpetua o querer de que as coisas andem para não dançarem no descompasso do tempo, desde que tudo continue no mesmo lugar.
Um Comentário para O RACISMO DISSIMULADO