Não havia tempo nem para realizar nem para elaborar as perguntas para o plebiscito. O que não perdeu seu efeito para coincidir com as eleições de 2014. Posto que, no referendo, a reforma política fica a cargo de um Congresso desmoralizado para acertar regras quanto a seu próprio futuro. Como a matéria é complexa, pode perfeitamente engendrar uma reforma segundo seu caráter e grotesco perfil, mancomunados com raposas velhas – juristas que influenciariam de conformidade com os interesses de sua vasta clientela que deseja mandar no país. Se o PMDB, conhecido pelo apetite com que cobra cargos, já pensa em sugerir a Dilma reduzir o número de ministérios e cortar gastos, numa tentativa de transferir o desgaste com a opinião pública para o Executivo. Se Aécio, surfando na onda dos manifestantes e falando com voz mais de homem, aproveitará para se criar na reforma e subir mais alguns degraus nas pesquisas. Como não existe consenso no Congresso a respeito do processo da escolha de políticos, que se desdobra em outros temas por decidir, fica mais fácil iludir os manifestantes, que só terão de referendar o pacote com um sim ou não. Vai que daí surja uma campanha, à frente, Lula, para denunciar as patifarias costuradas no referendo e, de quebra, procurando reerguer Dilma nas pesquisas. O país vai incendiar! Os manifestantes apartidários e que odeiam os partidos políticos vão ser obrigados a se definir entre referendar o Congresso com o sim ou não à empulhação, mesmo porque já estaríamos próximos das eleições. O movimento que deu origem aos protestos em todo o Brasil ficaria dividido conforme suas preferências eleitorais. Tudo o que queriam evitar, mas que não poderão se negar ao exercício de cidadania, que não consiste apenas em protestar e vir para as ruas.
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